Brancos x Negros

Os jogos solteiros contra casados era uma tradição na cidade de Vila Velha. Naquele ano, por sugestão do Padre Chiquinho, incentivando a integração, resolveram que a partida seria entre brancos e negros. A idéia foi bem aceita, até porque o Coronel Lindório e o Capitão Olegário faziam questão desta miscigenação, já que o Grêmio Fusball Chimango e do International Maragato Crub tinham craques de ambas as etnias.

No dia do jogo, com os times já em campo, aconteceu o impasse. O capitão, que tinha muitos atletas negros, queria de árbitro um afro-brasileiro. O coronel, um branco.

Os times já estavam em campo e teriam que escolher o juiz.

- Tem que ser negro! – avisou o Capitão Olegário.

- Negativo – disse o Coronel Lindório. – Branco!

A confusão já se armava quando resolverem chamar o Padre Chiquinho.

- Ele deu a idéia, que arrume a confusão.

- Isso! O padreco atou, que desate.

Ciente do que se passava, o religioso, caminhando em direção a casa paroquial, avisou:

- Já volto.

Minutos depois os Vilavelhenses viram a charrete aranha, pertencente a Congregação das Filhas de Maria, em disparada, dobrando a esquina da Igreja. Na boléia estava o sacerdote.

- Que será ele vai inventar.

Quando a aranha voltou, o padre trazia ao lado um conchavado de uma estância perto dali. Desceram e foram para o meio do campo, onde os times já aguardavam.

- Quié isso, padre? – perguntaram.

- Ele vai apitar – avisou, apontando para o recém-chegado.

E, orgulhoso concluiu:

- Não queriam juiz neutro? O Sarará vai apitar!

O sacerdote tinha razão: em jogo de branco contra negros, nada mais imparcial que um sarará.

Alcir Nicolau Pereira

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