O DEDÃO DO PÉ DIREITO
NALDOVELHO
Preciosas lembranças, pés descalços, roupa suja, corpo suado, ainda menino, joelho esquerdo ralado, unha do dedão do pé direito, esmigalhada... Errei a bola, acertei a pedra. Tempos sagrados!
No campinho ao lado da igreja, todas as tardes a mesma hora, uma boa pelada e o padre, invariavelmente, torcia pelo time errado. Acho até que veio daí a minha indisposição com o Clero, até hoje não nos entendemos!
De vez em quando saía uma briga: “ninguém se mete!” Dizia alguém do meu lado. E lá vinha o padre segurando a batina, a separar os meninos, e aí, voavam catecismos pra todo o lado e tudo o mais virava uma festa.
Daqui a pouco mais uma partida e nessa eu infelizmente não jogava, contundido, o dedo doendo, um medo danado do Seu Luiz da farmácia. Já pensou se ele cisma de arrancar a unha?
Voltar pra casa, tipo herói de guerra; não joguei a última partida, mas a turma da rua tinha sido a campeã. Ao chegar em casa, minha mãe assustada: - Não acredito meu filho, arrebentou o dedo outra vez?
Ao tomar um banho, um drama danado, como doía a unha esmigalhada! E lá íamos nós pra farmácia, uma vontade louca de chorar, era quando o meu pai dizia: - homem não chora, agüenta o tranco garoto!
O que se passou, depois, foi uma verdadeira guerra: pro seu Luiz consertar meu dedo foi preciso que o Doda, um branquelo sarado que auxiliava no balcão, me imobilizasse num canto e aí, um catiripapo na orelha, era o meu pai a marcar presença.
Passada a tortura, ia então pra esquina da rua lá de casa e nem um vestígio de lágrima.
- Homem não chora, meu pai dizia, e se chorar te dou uma porrada!
Meu pai sempre foi muito convincente, foi assim que ele me criou.
NALDOVELHO
Preciosas lembranças, pés descalços, roupa suja, corpo suado, ainda menino, joelho esquerdo ralado, unha do dedão do pé direito, esmigalhada... Errei a bola, acertei a pedra. Tempos sagrados!
No campinho ao lado da igreja, todas as tardes a mesma hora, uma boa pelada e o padre, invariavelmente, torcia pelo time errado. Acho até que veio daí a minha indisposição com o Clero, até hoje não nos entendemos!
De vez em quando saía uma briga: “ninguém se mete!” Dizia alguém do meu lado. E lá vinha o padre segurando a batina, a separar os meninos, e aí, voavam catecismos pra todo o lado e tudo o mais virava uma festa.
Daqui a pouco mais uma partida e nessa eu infelizmente não jogava, contundido, o dedo doendo, um medo danado do Seu Luiz da farmácia. Já pensou se ele cisma de arrancar a unha?
Voltar pra casa, tipo herói de guerra; não joguei a última partida, mas a turma da rua tinha sido a campeã. Ao chegar em casa, minha mãe assustada: - Não acredito meu filho, arrebentou o dedo outra vez?
Ao tomar um banho, um drama danado, como doía a unha esmigalhada! E lá íamos nós pra farmácia, uma vontade louca de chorar, era quando o meu pai dizia: - homem não chora, agüenta o tranco garoto!
O que se passou, depois, foi uma verdadeira guerra: pro seu Luiz consertar meu dedo foi preciso que o Doda, um branquelo sarado que auxiliava no balcão, me imobilizasse num canto e aí, um catiripapo na orelha, era o meu pai a marcar presença.
Passada a tortura, ia então pra esquina da rua lá de casa e nem um vestígio de lágrima.
- Homem não chora, meu pai dizia, e se chorar te dou uma porrada!
Meu pai sempre foi muito convincente, foi assim que ele me criou.