O Caso do Juiz Babá

Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a

Johann Goethe

I

Esse caso aconteceu há muitos e muitos anos na Vara do Trabalho de Uberlândia. É possível que tenha ocorrido numa época tão remota que poderíamos até dizer ter ele se passado ainda no tempo em que os bichos falavam.

Brincadeiras à parte, esse caso se deu de fato por volta do ano de 1974.

Vou principiá-lo afirmando que não são apenas os antigos servidores de Uberlândia que guardam uma saudosa e alegre lembrança do Dr. Darcy Antenor de Castro, excelentíssimo senhor Juiz do Trabalho e – segundo ele mesmo afirma – um “frustrado” cantor de ópera!

O fato foi que obtive informações de fonte segura que o mesmo recebeu no ano de dois mil e quatro uma singela homenagem de toda a equipe de funcionários da 1ª. Vara do Trabalho de Uberlândia.

O Dr. Darcy – é bom que se diga logo - é um homem simples. Nasceu e cresceu numa localidade que no passado era designada pelo nome de “Japão de Oliveira” e que atualmente é o município de Carmópolis de Minas.

Esse caso foi narrado pelo próprio Dr. Darcy numa entrevista que deu à jornalista Virgínia Castro no Suplemento Prata da Casa, edição de no. 14, datado de janeiro de 2005, uma interessantíssima publicação da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da Terceira Região.

Vamos então ao caso que é o que nos interessa no momento.

II

Certa ocasião o Dr. Darcy estava em meio a uma audiência no fórum trabalhista de Uberlândia quando percebeu o choro agitado e sofrido de uma criança. Ela se achava na ante-sala de espera da sala das audiências, carregada por um homem que provavelmente deveria ser o seu pai.

O garoto não parava de chorar nem por um segundo e aquele lamento doloroso acabara por incomodar profundamente o juiz. Este percebera serem aquelas lágrimas de dor e não de manha ou por qualquer outro motivo pueril.

Então o Dr. Darcy se dirigiu aos advogados presentes naquela assentada e pediu-lhes gentilmente licença para se ausentar da sala e dos trabalhos durante alguns minutos. Decidira-se a averiguar e a descobrir pessoalmente o que afinal estaria incomodando tanto aquela criança.

Ao entrar na saleta vizinha, encontrou o referido homem carregando o bebê. Entretanto, o sujeito mal conseguia acalentar ou acalmar o garotinho. Então o juiz se aproximou dele e pediu-lhe licença para carregar a criança por alguns minutos. O meritíssimo deitou o garotinho sobre o seu colo e se pôs durante algum tempo a dar leves palmadinhas no seu bumbum.

Os lamentos da criança foram lentamente diminuindo, até que se cessaram por completo. Logo que o pegara no colo, o Dr. Darcy havia percebido que a barriguinha do menino se encontrava cheinha de gases e daí tivera a percepção de que algumas pancadinhas no lugar certo haveriam de ajudar a expulsar aqueles gases que tanto pareciam incomodar a criança.

Resolvida aquela situação extrema e de primeira necessidade, retorna o meritíssimo para a sala de audiências e dá prosseguimento a sua atividade judicante.

Que Deus abençoe os homens e mulheres plenos de percepções e perspicácias!