(Beber) Por uma boa causa
Eles estão separados faz alguns anos, mas sempre que se encontram os afagos e beijinhos acontecem. É lindo ver essa amizade colorida, e o filho, já casado e com filhos agradece tanta demonstração de civilidade. E parece que eles foram mesmo feitos um para o outro, pois até os nomes combinam: Creuza e Clovis. Creuza às vezes passa uma temporada ao lado de Clovis, como se ainda fossem casados. Vão a mercado, saem de mãos dadas a passear pelas ruas do bairro e até sentam em alguma lanchonete para um refrigerante e uma boa conversa fiada. E eu fico admirado, pois sei que ele é um sabe tudo e ela, todos sabem que não sabe nada. E ela admira a sabedoria dele pois não esconde de ninguém, mas não sei se por discrição ou timidez ninguém sabe a opinião dele sobre a sabedoria dela Mas, como nada nem ninguém é perfeito nesse mundo, Creuza e Clovis também tinham suas diferenças. Diferenças diferentes, mas essenciais. Numa tarde de sábado, dia de joguinho de tranca entre os primos, regado a cerveja, refrigerante e sardinha assada com muito azeite, cebola e tomate, eis que surge a Creuza. Sozinha.- E aí, Creuza? Chega mais, junte-se aos bons. Mas Creuza chegou amuada, o que não a impediu de lambuzar os dedos para pescar uma sardinha assada. Tem gente que aumenta a esganação quando perde o humor. Donde anda o Clovis, menina?. -Não sei e não quero saber. Clovis disse que “ia ali” e me deixou plantada em casa, quando resolvi não esperar mais e saí, dei de cara com ele trocando as pernas. As letras e olhares com uma loira gelada. Vou dizer uma coisa muito séria pra vocês que são primos dele. Ou ele larga de beber ou eu é que largo dele, de vez O silêncio sepulcral prenunciava uma risadagem geral seguida de um pensamento único dos presentes, exceto a Creuza, claro. “Se o Clovis pára de beber, ele é que larga dela”