O Caso do Senhor Waldisnei

Quem decide um caso sem ouvir a outra parte não pode ser

Considerado justo, ainda que decida com justiça – Sêneca

Disseram-me que este caso ocorreu na sala de audiências de uma das Secretarias do Fórum de Contagem. Na época em que esses fatos se passaram ainda não havia sido instalado o novo sistema de alto-falantes que atualmente permite ao datilógrafo de audiência fazer a chamada das partes e das testemunhas tranquilamente acomodado em seu posto de trabalho.

Naquele tempo não muito distante, porém, o datilógrafo tinha que se levantar de sua cadeira e se dirigir até a porta de entrada da sala das audiências. Então – buscando pronunciar da melhor forma possível e em alto e bom som para que todos os presentes o ouvissem e entendessem corretamente – fazia o chamamento das partes.

Nesse caso tudo ocorreu exatamente assim:

- Audiência das oito horas e quinze minutos. Reclamante senhor Waldisnei da Silva e reclamada Enterprise Configurações Estelares Ltda. – dissera o datilógrafo retornando em seguida a sua cadeira.

Passados alguns segundos, vê-se que apenas o preposto do reclamado e seu patrono dão entrada na sala de audiências. O juiz determina que seja feito novo chamamento do reclamante. No entanto, tudo se dá exatamente como da outra vez: ninguém aparece ou responde.

Então o juiz comunica à parte presente que irá proceder ao arquivamento do feito pelo motivo de ausência do reclamante.

Nesse momento o preposto da reclamada informa ao juiz que o reclamante se encontrava “agorinha mesmo sentado num dos bancos da ante-sala das audiências”.

O juiz solicita ao datilógrafo que se dirija uma vez mais até o referido local e que faça uma conferência definitiva quanto à informação prestada pela parte.

Então o datilógrafo se encaminha até o único sujeito que se encontrava sentado no banco de espera. Ele se achava distraído, lendo tranquilamente um exemplar de um jornal de grande circulação na região.

O datilógrafo dirige-se ao homem e lhe pergunta:

- O senhor é o seu Waldisnei?

(Nas três ocasiões em que fizera o chamamento do reclamante, o datilógrafo dissera literalmente “Valdisnei” com V e tudo junto, conforme acreditara ser a correta pronúncia do nome do homem e como se achava registrado na capa dos autos e em sua pauta de audiências.)

- Não, não. O meu nome é Walt Disney...

Só então ficaram sabendo que o suposto senhor Waldisnei da Silva era em verdade o reclamante Walt Disney da Silva e que o nome do tal sujeito deveria ser pronunciado exatamente como o do imortal criador do Tio Patinhas, do Pateta, do Mickey e de tantos outros personagens infantis das histórias em quadrinhos...