BRUXAS QUE VIRARAM PEDRAS APÓS UMA GRANDE FESTA

A história que vou contar pode coincidir com os relatos do ilhéu "Franklin Cascaes". Conheci esta lenda na década de 80. Ele foi narrada por uma idosa, que ao me ouvir falar sobre as bruxas da Ilha de Santa Catarina fez uma pergunta muito simples:

- Minha filha, já ouvisse falar da história das pedras da ponta da Praia de Itaguaçú?

Minha resposta foi imediata:

- Nunca ouvi nada a respeito.

Foi então que pela primeira vez, ouvi alguém falar sobre esta história, a qual me deixou noites e noites intrigada, mas que após muitas reflexões sobre tudo o que ouvi, é que registrei cada palavra que me visitou a mente. Em 2006, quando participei do Curso de Contador de Histórias, do SESC/PRAINHA/FPOLIS, tomei conhecimento dos contos do primeiro autor supracitado, e mais tarde do segundo (Peninha). Mas, agora é hora de conhecer o conto que escrevi.

Há muitos anos atrás de madrugada, numa sexta-feira de lua cheia, lá na beira da praia do Itaguaçú, na época um grande gramado em Coqueiros – Florianópolis, Santa Catarina, um bando de bruxas muito malvadas, que tinham o costume de roubar as canoas dos pescadores a noite, para fazer seus passeios bruxólicos noturnos, resolveu dar uma festa, convidando todos os elementares das matas, dos mares e dos Açores. Eram Boitatás, Saci, Curupira, Lobisomem e outros, sem a companhia do capeta, é claro, pois alem de cheirar a enxofre, era feio e descarado. Naquela noite, podiam-se ouvir as frenéticas gargalhadas das bruxas, de longe, muito longe... Que eram de arrepiar os cabelos e tremer todos os ossos do corpo.

O capeta, desconfiado, resolveu fazer a ronda. Deu uma volta pela redondeza, para ver como as coisas estavam. Acontece que a sua bruxa preferida: uma benzedeira de zipra, zipela e zipelão, espinhela caída, carne quebrada, nervo torto, mal olhado, também saiu naquela noite para ver se o tinhoso andava por perto. Pois bem sabia ela, que se ele soubesse da tal festa, colocaria tudo a perder. Pois o malvado só comparecia nas festas para abusar das bruxas. Elas, já não aguentavam mais as suas sacanagens, pois só participava das festas para dar tapas, beliscões e mordidas nas bundas das bruxas. Isso, quando ele não ficava cutucando cada uma delas com o seu enorme rabo. Envolvidas nas urgias do capeta, as bruxas acordavam no dia seguinte com o corpo todo doido e marcas por todos os lados.

Acontece que ao aproximar-se do ambiente festivo, o capeta pôde ouvir de longe as bruxólicas gargalhadas. E ao ver que fora traído pelo bando de bruxas que ele tanto cobiçava o tinhoso enfurecido, ajeitou os chifres embaixo do chapéu, o rabo sob a sua vestimenta, cobrindo-se com um manto preto e esfarrapado, e ficou ali de espreita, no meio de um pé de manguezal, para dar o grande bote. Foi aí que o bicho, chegando de mansinho, adentrou na grande festa, disfarçado de mendigo. E nesse momento ele pediu às bruxas, com voz rouca e suplicante:

- Me dê um pedaço de pão e um copo de água, por favor. Estou morto de fome e cede.

Ao verem aquele homem todo esfarrapado, pedindo-lhes pão e água, as bruxas caíram na gargalhada, agindo com zombaria:

- Sai daqui coisa feia, mistura de cruz credo com aquilo!

- Coisinha horrorosa, sai daqui!

- Nem o tibinga é tão feio e fedido!

Todas zombaram mais ainda do infeliz. Mesmo assim, o capeta continuou no disfarce, insistindo no pedaço de pão e no copo de água. Até que a bruxa mais velha do bando resolveu atender-lhe o pedido, dando-lhe uma migalha de pão oco e seco e um copo de vinagre. No momento em que ele mordeu o pão e bebeu o vinagre, o bicho ficou enfurecido, perdeu um dente e cuspiu fogo no chão. O mar, por sua vez, ficou revolto e o vento sul apagou as luzes das velas e das lamparinas que clareavam aquela noite escura. Foi quando as mãos, os braços e as pernas das bruxas começaram a encolher, com as suas orelhas e nariz desaparecendo, e as ondas as arrastando mar adentro, fincando-as uma por uma na areia do mar.

Então lá fora, na beira do gramado o tibinga (capeta) exclamou aos berros e de bom tom:

- Não me convidaram para a festa, é? E não quiseram me servir? Vocês que não souberam me amar, nem me respeitar. Agora vou transformar todos em pedras, e este campo em mar. Assim pediram, assim será. De agora em diante viverão aí fincados(as), para sempre pedras.

E lá estão todos os Elementares que compareceram á festa, até hoje, todos transformados em pedras. Umas grandes e outras pequenas, de todos os tamanhos e formas. Se Você duvidar, passe por lá que poderá ver as pedras nas suas formas Elementares, tais como o tinhoso as fez.

(Conto extraído dos causos contados pelos mais velhos, no século passado.)

Claudete Terezinha da Mata

Psicopedagoga, Mestre, Atriz e Contadora de Histórias, Coordenadora e Ministrante da Oficina Literária Boca de Leão e Mentora da Academia Brasileira de Contadores de Histórias, com Sede em SC (Fundação em 2 de junho de 2014).

Bruxa da Mata
Enviado por Bruxa da Mata em 16/05/2009
Reeditado em 25/08/2014
Código do texto: T1597111
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