O Caso do Processo “Confuso” (diga-se: Concluso) e “Amarrado”

As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos caminhos diversos, desde que alcancemos o mesmo objetivo? Onde está o motivo para as brigas? - Gandhi

I

Um reclamante pede informações sobre o seu processo no balcão da Secretaria. Após localizar os autos no sistema e ver que os mesmos estavam naquele momento com a juíza, o balconista comunica ao reclamante que o referido processo se encontra “concluso”.

O reclamante – sujeito simples - acaba não entendendo muito bem as palavras e as explicações que o balconista lhe prestara. Vai embora cheio de dúvidas e se dirige em seguida ao escritório do seu advogado:

- Estive na Justiça, doutor – diz ele para o seu procurador - e o balconista me informou que o meu processo está “confuso”!

O advogado lança sobre o sujeito um olhar detetivesco. Tenta imaginar o que poderia significar aquele tal processo “confuso”.

- Com certeza não foi bem isso o que o balconista quis falar – responde-lhe o seu patrono. O funcionário deve ter-lhe dito “concluso” e não “confuso”. Agora: em relação a essa última palavra, devo lhe dizer que para mim o seu processo está até mesmo muito claro e que não espreito ali nenhuma confusão à vista...

II

O reclamante sai do escritório do advogado mais perdido do que cego em tiroteio e se dirige a sua Igreja em busca da ajuda do pastor.

Certa vez o homem lhe afirmara que se algo estivesse “atrapalhando” ou “confundindo” qualquer aspecto da sua vida que ele poderia procurá-lo para uma benção ou simplesmente para que conversassem sobre o assunto. E aquele processo – imagina o reclamante - certamente que estava meio “confuso” e “confundido” o seu autor! Pois não fora exatamente isso o que lhe informara o balconista?!

Chegando à Igreja, dirige-se o reclamante imediatamente à sala do pastor:

- Pastor, estive lá no Ministério (traduzindo: “Ministério” é como muitos reclamantes costumam chamar a Justiça do Trabalho em virtude de “confundirem” o Ministério do Trabalho e Emprego, órgão pertencente ao Poder Executivo, com a Justiça do Trabalho, órgão do Poder Judiciário) e o balconista afirmou que o meu processo está confuso, muito difícil de resolver!

- Fez bem em vir, meu filho, fez muito bem! Eu acho até que além de “confuso”, o seu processo deve estar precisando mesmo é de ser “amarrado”. E muito bem “amarrado” em nome de Jesus...

III

No dia seguinte, portanto, o reclamante bate à porta da Secretaria e pergunta ao balconista se seria possível levar o seu processo até a Igreja para que o pastor o abençoasse e o amarrasse definitivamente...

- O pastor - insiste o reclamante – com certeza que vai por todos os demônios para correr dali em nome de Jesus...!

O balconista mal consegue conter o próprio riso. Encara tudo aquilo como uma piada e se dirige sorrindo para o interior da Secretaria. Queria contar para os colegas o que estava acontecendo com ele no balcão.

Ao saber – entretanto - do ocorrido, a Diretora da Secretaria manda imediatamente chamar o balconista. Pede-lhe que retorne ao balcão e que explique detalhadamente ao reclamante acerca da impossibilidade do mesmo retirar os autos dali.

Mas que lhe diga também – continuou a mulher - que se achar necessário pode trazer o seu pastor à Secretaria que o homem será muito bem recebido.

- Ainda mais – finalizou ela com muita sabedoria e perspicácia – que o que mais têm aqui é processo “confuso” e precisando mesmo ser abençoado e “amarrado” em nome de Jesus...!

Louvado seja então o nome do Senhor!