O mentiroso

Eu sou uma pessoa que presta muita atenção nas estórias contadas por quem está a minha volta. Na verdade não sou de falar muito. Eu mais presto atenção do que falo. E de tanto ouvir as conversas das pessoas eu aprendi a sentir o cheiro de um bom mentiroso de longe.

Tem duas estória que todo mentiroso que se preza não perde a chance de contá-las de maneira alguma em uma roda de amigos.

A mais comum é aquela que em um certo lugar havia algo que não funcionava nem com reza braba. Uns quatro ou cinco especialistas já haviam tentado concertar, porém não conseguiram encontrar o defeito. O nosso amigo papudo foi, então, enviado as pressas para o logradouro a fim de tentar resolver o problema. Batata!... Assim que chegou ao local, lá da rua, ele já viu onde estava a problemática. Vejam só que sujeito excepcional. Realmente um profissional altamente capacitada. Vários especialistas formados em engenharia e pós graduação em engenharia, examinaram o local de cabo a rabo e não conseguiram encontrar uma solução, ele, porém, com toda a sua experiência e com todo o seu conhecimento, apesar de não ter quase estudo nenhum e de ser um técnico formado apenas pela escola da vida, nem precisou examinar a área , enxergou o defeito lá da rua. Ele solucionou o problema só pelo faro, como se fosse um cachorro perdigueiro que fareja a caça a quilômetros de distância. Vai ser mentiroso assim lá na casa do chapéu. Ele conta isso na maior cara de pau. E com um entusiasmo tão grande que seus olhos chegam até a brilhar. Quando ouço esse tipo de estória me dá uma vontade danada de pegar o cara pela garganta e esganá-lo.

Outra estória bastante comum, e que todo mentiroso gosta de contar também, é a do sujeito que chegou em um bar, e ficou ali em um cantinho tomando a sua bebida sem encher o saco de ninguém. De repente encostou uma viatura da polícia e seus ocupantes já foram descendo e intimando todo mundo.

----Encosta ai cambada de vagabundos!!! --Gritou um dos policiais, já empurrando e ofendendo os frequentadores do estabelecimento.

Todos os cidadãos que ali estavam ergueram os braços rapidamente e ficaram naquela posição, ridícula e humilhante, de pernas abertas e mãos encostadas a parede, dando a impressão que o sujeito vai ser enrabado . Todos... menos aquele senhor que bebia o seu aperitivo sozinho a um canto do bar.

O oficial que comandava a batida berrou lá da frente, junto a porta do estabelecimento:

----Safado!!! Eu mandei encostar!!! Você é surdo seu FDP!!!

O senhor, sem se abalar um só dedinho, largou a sua bebida e dirigiu-se calmamente até onde estava o oficial.

----Safado e FDP é você seu cafajeste! --Respondeu aquele senhor, encostando o dedo no nariz do oficial.

----Quem é você? --Berrou o oficial, já se preparando para dar um tapa na orelha daquele homenzinho folgado.

----Você não!!! Senhor!!! --Berrou ainda mais alto o cavalheiro misterioso que até aquele momento mantivera-se calado tomando o seu aperitivo.

----Identifique-se seu galhorda! --Ordenou o oficial.

O homem, sem se abalar, tirou uma carteira do bolso e a encostou no nariz do oficial, que arregalou os olhos e se cagou por inteiro. Ele era general reformado do Exercito Brasileiro. E para finalizar a estória o mentiroso estufa o peito, da uma chupada de nariz e arremata:

----Rapaz ... os policiais pediram mil desculpas à aquele senhor, entraram rapidamente na viatura e saíram cantando os pneus.

Essa geralmente é contada pelo mentiroso metido. Aquele que não tem nem merda no rabo para cagar e quer ser melhor que todo mundo. Esse é o tipo de mentiroso que quando eu vejo conversar me da vontade de vomitar até as tripas.

Enfim, tem várias outras estórias, estas duas, porém, são as mais comuns. Por isso quando você ver alguém contando alguma dessas duas estórias pode ter certeza: “Você está diante de um grande mentiroso”.