A única lembrança de meu tataravô...

 

Após inumeráveis vaivens, finalmente a casa que buscava

descortinava todos os meus anseios de chegança.

 

Ali estava ela, sobriamente erguida ao sopé de uma serra

altaneira, onde andorinhões azuis marinhos circulavam

rodeando com seu vôo rápido, a casa que tanto buscara, e

que agora era o próprio caos, ruindo já em algumas partes.

 

Impassíveis os andorinhões continuavam em sua festa voa-

dora caindo do céu com suas asas pontiagudas, enquanto o

sol já ia se pondo, lançando em meus olhos réstias de luz

que me tiravam a visão do mais além...

 

Havia um cheiro raro pelo ar... uma  mescla de  velhas cinzas

com o aroma que vinha de um jasmineiro  coberto de flores.

Pedi licença a ele, colhi a mais alva flor, e com ela me dirigi à porta dessa casa, que parecia assombrada de tão abandonada

que estava.

 

Empurrei a porta do varandão com cuidado e ela chiou como

gata dengosa.Estava totalmente emperrada,  e foi com muita

dificuldade que consegui passar por um desvão, e com esforço

penetrei nas sombras de uma imensa sala.

 

Nossa!!! Que desordem...e que abandono !!!

A impressão causada era a mesma de se encontrar uma tumba faraônica...Tudo estava sob um pó grosso...acumulado por

anos e anos...

 

Nesse momento me ocorreu um antigo ditado: Do pó viestes,

ao pó retornarás... Percorreu-me um frio ao pensar nisso...Pós

seculares perturbam até a alma.

 

Ah...se meu tataravô visse isso teria um troço.Pobre homem !!!..

O que havia agora dentro da  casona  eram  muitas teias de ara-

nha, cupins e formigas saúva que sem a menor cerimônia iam

logo subindo pelas minhas pernas como se eu fosse um arbusto

qualquer.

 

Dei  uma última olhada nesse abandono  e saí para o sol que agora se recolhia lá longe nas colinas levemente onduladas.

Estava lindo esse entardecer dourado.

 

Desamarrei Blitz, meu cavalo baio, meti o pé no estribo e saltei sobre o lombo dele. Movi as rédeas e ele já sabia que era no trote manso  que deveria seguir  aquela estradinha de terra.

 

Lá adiante  ainda dei uma olhada para trás para ver se a casona já havia sumido das vistas naquela imensidão  do cerrado...

 

Nisso ...senti um perfume muito intenso e admirado percebi que ainda segurava aquele lindo jasmim...a única lembrança que le-

vava de meu tataravô  !!!

 

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Pequena história que fiz anos atrás – Lua cheia – sol e nuvens – 26 graus. Dia 14-05-09 às 02.00 h em São Paulo.

Beijos e abraços para você...boa quinta...

cseagull2@hotmail.com

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