VIVIDOS, OUVIDOS E RIDOS -causos de gaúcho - 05 - O NEGOCIANTE BATISTA
Eu e o Nino, meu irmão, plantávamos trigo e soja na Invernada da Palmeira, pertencente à Estância São Lucas, rincão de mesmo nome, município de São Borja.
Junto a um capão10, atrás do Sobrado da sede, onde mon­tamos acampamento, havia um local de rodeio antigo, terra buena barbaridade.
O Batista ali plantou milho pipoca, o clima ajudou e ele co­lheu uns trinta sacos de espigas. Começou a vender, e bem, cinqüenta espigas por dez pilas, até que o negócio mermou. Como ainda tinha bastante milho, dei-lhe a idéia de uma promoção es­pecial, tipo cem espigas por quinze pilas. Deu certo e ele voltou bem faceiro. Acabou vendendo tudo.
Um dia, falando com meu irmão Renato, contei-lhe sobre as vendas do Batista e o conselho para a tal promoção. O Rena­to, rindo muito, só aí entendeu a resposta do pipoqueiro quando, encontrando-o na rua e perguntando o que andava fa­zendo, recebeu a explicação do Batista sobre a diminuição das vendas e a grande saída, depois da minha sugestão. O Renato ficou curioso e perguntou:
— E como é que tu faz, velho?
— Bem, ora! Eu chego e digo: cumé, qué cinqüenta por dez ou cem por dez?
Ainda rindo da sua "esperteza", arrematou:
— E sabe que todo mundo só compra de cem?

capão - porção de mato isolado no meio do campo.