O Caso do Senhor Concluso

A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se em solidão, lê-se em solidão e, apesar de tudo, o ato da leitura permite a comunicação entre dois seres humanos – Paul Auster

I

Uma senhora aproxima-se do balcão da Secretaria e pede ao funcionário que a deixe ver o processo no qual ela é a reclamante.

De posse do número dos autos, o balconista dirige-se até a gaveta do arquivo onde eles deveriam estar guardados. Entretanto, não os encontra ali.

Segue a passos largos para o interior da Secretaria e lá permanece por alguns minutos numa desenfreada busca do processo.

Daí a pouco ele retorna ao balcão e informa para a reclamante que o processo dela está “concluso”. Solicita então que ela volte à Secretaria no dia seguinte para ter a vista do mesmo.

II

No dia seguinte - no mesmo bat-horário e bat-canal - lá se apresenta a reclamante. Tudo ocorre de forma muito semelhante como havia se dado na manhã do dia anterior: o balconista confere na gaveta a ausência do processo e se dirige até as demais dependências da Secretaria em busca dele.

Retorna mais uma vez sem os autos e repete para a reclamante que “infelizmente” o processo dela continuava “concluso”.

III

No terceiro dia lá estava a senhora outra vez solicitando do servidor a vista do seu processo. Tudo se passa exatamente da mesma forma como havia acontecido nos dias anteriores.

Do lado de fora do balcão a reclamante a tudo observa em silêncio: o balconista aparenta a mesma cara de decepção ao conferir na gaveta a ausência dos autos; dirige-se em seguida ao interior da Secretaria e quando volta de lá alguns minutos depois, surge outra vez com as mãos vazias da sua infrutífera busca.

Então - antes mesmo que o funcionário tivesse tempo de falar qualquer coisa – diz-lhe a reclamante rapidamente:

- Meu amigo, me chama logo esse tal “senhor Concluso”, pois estou vendo que contigo eu não vou arranjar é nada mesmo! Pois se você nem consegue encontrar o meu processo, o que mais eu posso esperar de ti?