Django e a louca da piscina...
Django e a louca da piscina...
Quando se aproximava a Copa do Mundo de 1998, Django era um professor de Língua Portuguesa que militava na cidade de São José da Boa Vista, no norte velho do Paraná. Todos procuram amenizar seus males com a ajuda de um médico ou um psicólogo. Django, não. O seu estresse virou um círculo vicioso. Como já possuía o hábito do alcoolismo, quando estressado corria para o bar abrandar suas frustrações. Bebia, se estressava, se se estressava, bebia. Então veio o “pânico de sala de aula” que não conhecia, mas preferiu ser internado do que ter que enfrentar alunos mal educados.
Uma de suas filhas e sua mulher lhe arrumaram um internamento num Hospital Psiquiátrico da cidade de Londrina, no Paraná. O famoso Shangri-la.
Quando chegou no hospital o clima já era de Copa do Mundo. O hospital já estava todo enfeitado de bandeirinhas e bolas com as cores da nossa seleção. Que de tão amarelas, amarelou nosso craque: Ronaldo!
Já começara a esfriar na cidade de Londrina e Django, furou um pequeno cobertor que levara, para servir de pala. Aquele que os gaúchos usam. Daí o apelido que lhe deram, lembrando ao filme de faroeste.
Naquela casa é norma, que na chegada - o paciente deve ficar a primeira semana cuidando da portaria. Django achou estranho que uma pessoa recém-chegada, cuide de uma portaria sem conhecer as pessoas com quem irá lidar. Mas norma é norma. Tudo bem. Ele sofreu muito com esta portaria. Lá dentro, Django assistiu aos jogos do Brasil, fez trabalhos manuais, leu muito. Leu a vida de Zélia Cardoso de Mello. Leu um livro sobre o Carlos Lacerda. Ouviu palestra antidrogas. Fez muitos amigos. Amigas. Por ser professor, Django sentiu vergonha de ir para um hospital de alcoólatras. Mas ali existiam tantos professores, advogados, sargentos, etc. Jogou futebol de salão. Django, havia feito amizade com uma enfermeira responsável e esta lhe deixava jogar futebol com os portadores de doença mental, pois não era permitido a mistura de alcoólatras e doentes mentais.
Certo dia durante uma partida de futebol de salão, Django conheceu um rapaz que se dizia ter sido goleiro profissional do Nacional de Rolândia. E os dois sempre jogavam do mesmo lado no ataque. Numa jogada o time adversário parou e os dois seguiram com a bola, o gol estava vazio e Django mandou ele marcar o gol de cabeça. Com a bola no chão na linha do gol, o rapaz se abaixa, e cabeceia a bola e o chão. Ralou o nariz no cimento rústico. Foi direto para a enfermaria. Django ficou cabisbaixo com medo da enfermeira.
Havia uma professora muito bonita, loira, inteligente, falava inglês e Django sempre a perseguia no pátio para uma conversinha. A mãe dela era a dona da cantina do hospital. Havia também um negão, que veio da cidade de São José da Boa Vista, de onde Django viera que só cantava uma música: “mais só não pode acabar com as muié!” e sempre tirava Django, por ser conhecido, para dançar. Outra figura folclórica era um neguinho que, tinha um apelido, e quando era chamado pelo apelido, ele quebrava tudo que havia por perto. Uma vez ele entrou no banheiro e gritaram o seu apelido. Ele quebrou a pia e o vaso e se cortou com os cacos. Havia ainda uma índia velhinha que comia as bitucas de cigarro. Todo aquele pessoal fumava muito. Tinha um advogado que vivia catando bitucas e não falava com ninguém. Alguns caminhavam em roda, sem parar. Era tudo muito triste. Parecia um filme.
Django começou a apresentar o Show de Calouros e gostava muito daqueles calouros. Quando a mulher de Django foi visitá-lo ele estava apresentando o Show de calouros. E ficou muito feliz com a visita. Quando o violeiro cantava: “Debaixo dos caracóis de seus cabelos”, Django se emocionava muito!
Ele gostava muito da psicóloga, achava-a muito bonita. Gostava de suas palestras. O seu grupo era formado por 13 pessoas. Django fez um cartaz de fundo verde e 13 corações vermelhos, com nome de cada um. Em papel laminado e entregou para a Psicóloga que disse que ia guardar de lembrança, todo mundo gostou.
O Sangri-la tinha um jornalzinho e Django ajudava na correção do jornal e até escreveu um editorial sobre a derrota da seleção. Um sargento que cuidava do jornal elogiou seu comentário. Este sargento um dia foi segurar uma professora louca que tinha fama de bater em todo mundo e acabou apanhando da mulher.
Django não viu, mas ficou sabendo depois. Essa mulher aprontou com Django quando ele era porteiro. Era um domingo de visitas. O Hospital estava cheio de gente, rodeando à cantina. Perto da cantina havia uma bela piscina. Ninguém a usava. Acho que era só para o pessoal do hospital. Médicos, sei lá. A bela louca – Sônia Braga - fez uns carinhos no Django e pediu para filar um cigarro do lado de fora, com os visitantes e que já voltava. Estava muito frio e nada da bela louca voltar. Django não podia deixar a portaria. Quando viu a Sônia Braga nadando nua na piscina para alegria dos visitantes. Só quem não ficou feliz foi uma sargentona que era chefe da portaria e ainda pediu para o Django ir buscá-la. Foi a maior correria em volta da piscina. Um Show. Que nunca mais Django irá esquecer.
Theo Padilha
Joaquim Távora, 6 de maio de 2009