O frango
Chovia torrencialmente. Mas era domingo e tinham que dar um jeito. As crianças brincavam por toda a casa: entrando e saindo dos quartos. As mães descabeladas, gordas e com vestidos sujos, esbravejavam. De nada adiantava. - Criança é criança, costumavam argumentar.
Os homens na sala jogavam um carteado e bebiam cerveja. Alguns já embriagados; outros a caminho. Bebiam cerveja e lambuzavam os lábios de gordura daquelas carnes malpassadas naquela cozinha imunda.
- O frango? Quem vai buscar? Gritava da cozinha com voz engasgada, boca cheia.
Os homens apenas se olhavam e continuavam o carteado, aproveitando para mais um gole de cerveja e um pedaço de carne. Não usavam talheres. Rasgavam a carne, com aquelas unhas carregadas de terra por baixo.
Já passava das 11:00 h e nenhum deles manifestava interesse em desgrudar do jogo para buscar o frango.
A mulher da cozinha reitera:
- Quem vai buscar o frango?
De súbito vem da sala um silêncio. E imediatamente um grito:
- Pedro venha cá! O patriarca chamou o filho.
- Oi pai...
- Eu disse para vir aqui!
O filho imediatamente correu à sala. O pai com rispidez foi-lhe ordenando:
- Pegue este pranto e diga à sua mãe para colocar mais carne. E aproveite e traga uma garrafa de cerveja.
A mãe após encher o prato de carne, pegou a cerveja na geladeira, entregando ao garoto, dizendo-lhe:
- Diga àquele verme, asqueroso que vá buscar o frango. Ou mande alguém...
Na sala, o garoto, esperto nada disse, pois, sabia que o pai com toda grosseria que lhe era peculiar, ia mandá-lo para aquele lugar. Entregou o prato com carne e a garrafa de cerveja, voltando às suas brincadeiras.
A cerveja desta vez seria divida com menos homens; os embriagados já ressonavam e os demais já pouco conseguiam falar.
Novamente a mulher berra com uma voz mais horrível que dantes.
- Vá buscar o frangoooo!
Pouco depois...
Na sala dormiam; na cozinha também. Mas nos quartos as crianças continuavam as brincadeiras... E o frango...