Cortina da Vida

Final de tarde, finda um ato...
Fecha-se a cortina

A mulher recatada e contida, agora exala um perfume extravagante. A face, antes límpida e singela, corada apenas de timidez, passa a receber doses maciças de cores, que funcionam como disfarce para dor, sofrimento e angústia. O semblante irreconhecível, os ombros de outrora, arqueados e tímidos, agora emergem com força, o olhar é forte, profundo, penetra na alma de quem o encara, quem acompanha a mudança, silenciosamente indaga, como é possível ? ... de onde surge este sorriso farto e fácil ?

Personagem quase pronto, os olhos procuram os itens que funcionam como muletas, ou peças que equilibrem e impulsionem tal jornada:

... um copo,
... um cigarro...

Os lábios carnudos recebem uma camada de batom carmim, tão chamativo quanto a rosa que enfeita ou apenas tenta esconder o exagerado decote, que esforça-se para cumprir o papel de veste... deixando seu busto quase a explodir...

Abre-se a cortina da noite, desfila de salto alto na passarela da vida, trilha de forma soberana, trazendo brilho aos olhos daqueles que à corteja, embarca num vôo cego, destino incerto, esperançosa por um futuro de sonhos, um carinho especial, um afago e quem sabe, a tranqüilidade de ser apenas menina...

Amanhece, junto à luz do sol renascem outros sentimentos ... agora entendo o recato, a face límpida ... o retorno para casa é traumático, pés descalços, respiração ofegante. Olhos curiosos e repressores funcionam como flechas afiadas e silenciosas, tornando seu fardo ainda mais pesado, seu caminho mais longo, sua vida em vergonha...

Abre a porta
Fecha a cortina
Cuida das feridas
Fortalece a alma
Protege o corpo
A espera do final de mais um dia...

 
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 29/04/2009
Reeditado em 03/10/2017
Código do texto: T1566634
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