O BORRACHO

O fandango estava animado no Centro de Tradição Gaúcha. Os peões mais assanhados já estavam dentro do salão dançando as valsas e as vaneras. Acima do balcão do boteco uma placa dizia: É proibido os peões dançarem com a prenda que não for a sua. O aviso parecia meio engraçado, mas fez-se necessário por causa das peleias havidas quando dois gaúchos queriam dançar com a mesma chinoca. Era bem abaixo deste aviso que os mais tímidos tomavam umas canhas, o que facilitaria a coragem para enfrentar numa dança alguma prenda.

Num redepente uma bulha na entrada do galpão. Alguns gaúchos foram ver o que estava acontecendo. E encontraram o Pingunço, um dos conchavados da fazenda, que abusava da canha.

- Mas, vivente, tu já estás bêbado?

- Adivinhem de onde ele está vindo.

- Do boteco do Ventania. Só pode ser.

- Eu vou entra neste surungo – disse, enrolando a língua, colocando meio corpo para dentro do baile.

- Vai não! – avisavam. – Vais acabar dando problema lá dentro.

Os peões pegaram o bebaço e o levaram para longe. E pediram para o porteiro cuidar e não deixá-lo entrar no baile.

Entretanto, logo a seguir o Pingunço voltou.

- Vai embora! – avisou o porteiro.

Disfarçando o gaúcho, trocando as pernas, foi para o fundo do pátio onde havia uma escada que permitia a entrada no salão, E lá não havia quem cuidasse.

Mal e mal adentrou no salão, estacou o malroupido corpo, olhou em volta, e com a visão turva bradou:

- Opa! Outro baile com o mesmo gaiteiro.