O TIRO CERTEIRO
O Chico, peão na fazenda do Coronel Lindório, vivia se enredando com cobras. Era só facilitar e aparecia uma delas durante suas lides campeiras.
Certa feita era um fim de tarde. O sol se ponto, fazendo aquele lusco-fusco no horizonte. A peonada descansava ao lado do açude, enquanto as reses da tropeada pastavam num monótono ritual. Em volta do fogo de chão, os causos rolavam de boca em boca e o chimarrão passava de mão em mão.
Foi quando o sota-capataz avisou:
- Gente, cadê o Chico?
- A peonada olhou ao redor e não enxergaram o conchavado.
- Alguém sabe?
- Ele tá lá no capão de mato.
- Foi se aliviar – disse outro.
- É, mas faz tempo. O sol ainda brilhava quando ele foi.
Resolveram mandar o Taurino ver o que estava acontecendo.
Ao entrar no mato o peão perguntou:
- Chico, onde estás, vivente?
Nenhuma resposta. Ao gritar novamente pelo gaúcho desgarrado, ouviu um voz fraquinha, quase inaudível.
- Aqui! Vem cá, mas fala baixo!
O Taurino afastou umas barba-de-pau e teve que segurar o riso. Avistou o Chico, de cócoras, bombachas abaixadas e, nas entrepernas do gaúcho uma cobra cruzeira, daquelas enormes.
- Não ri, não ri – falou sussurrando. – Se não assusta a urutu.
Avisando que voltaria, o Taurino mandou o assustado gaúcho ficar quieto. E de mansinho, pé ante pé, afastou-se. E logo voltou com um pau-de-fogo cano longo. Atrás vinha a gauchada que ficou em respeitosa distância.
Ainda acocorado o amedrontado o Chico viu o amigo apontando aquele enorme revolver para o meio de suas pernas. E falava fraquinho:
- Mira bem, tchê! Mira bem! Pelo-amor-de-Deus, acerta a cobra maior, viu!