OJERIZAS
O Chico, que certa feita tinha arrancado, por engano, o guizo de uma cascavel ainda viva, tinha duas ojerizas: não gostava de peçonhentas e de cocô de cachorro. Queriam ficar inimigos do vivente era só puxarem o assunto.
Certa feita, ele dormia tranquilamente numa carreta à beira da casa do sota-capataz, quando, de supetão, apareceu o Beto Manco com uma cobra cruzeira morta.
- Bah! – disse. – Matei a danada da urutu ali perto da sanga.
Os peões resolveram fazer uma chalaça com o Chico. Enquanto um deles ajeitava a cobra morta perto do pé do peão, outro foi buscar um espinho de maricá. Arregaçaram a perna da calça e rasparam levemente o espinho na pele do conchavado, deixando uma marca que imitava uma picada. Acordaram o vivente e mostraram o arranhão na barriga da perna, enquanto outros mostravam a cobra urutu morta ao lado. O Chico pulou gritando?
- A la pucha, tchê! Tá viva?
- Não, compadre! O Manco matou a peçonhenta.
- Tá mortinha da silva – avisaram.
- E este arranhado aqui na minha perna? – perguntou.
- Nossa! – disse um dos peões. – Vai ver te mordeu!
- Tenho que ir ao doutor Policarpo.
- Tá viajando!
- E a dona Juvência?
- O curandeira?
- Essa mesmo.
- Foi junto com o médico
- Ai-cuna! Tô frito em pouca banha.
Alguns peões se afastaram e logo, logo voltaram.
- Compadre! – disse o capataz ao Chico. – Fizemos uma reunião ali e temos a solução. Só tem uma coisa! Acho que tu não vai aceitar a oferta.
- É verdade! – completou outro. – Tu tens nojo do que vamos te propor.
- Diga lá, vivente! – implorou o Chico.
- Bom! Certa feita a dona Juvência falou que para picada de cobra só cocô de cachorro salva.
Meio sestroso o conchavado perguntou:
- Passar na perna?
- Não! Tem que comer um pouco.
- Mas tem uma outra coisa. – avisou o capataz. – Foi feito uma limpeza do pátio e não temos de onde tirar o tal remédio que precisas.
- Verdade, vivente. – disse outro. – Não vai ter suficiente.
Desesperado o Chico saiu caminhando, mirando o chão, como se procurasse algo.
- Chico! O que estás fazendo, tchê?
- Pelo amor de Deus, amigos – disse. – Achem uma quantidade maior. Vou ver se encontro pelo menos um pedacinho seco de cocô de cachorro.
- Ué! Pra que, homem?
- Enquanto vocês procuram, eu vou tomando um chazinho.