CABO TURCÃO
O boato que a Maricota dava uns pulos fora do casamento já grassava em Vila Velha. Todo mundo sabia, menos o coronel Lindório, é claro.
O Cabo Turcão, única autoridade da vila, estava curioso por saber maiores detalhes. Sempre que dava no jeito, o milico convidava algum conchavado do fazendeiro para um trago na Bolicho do Ventania. Um dia encontrou o alemão Doitchê e convidou o peão para uma canha. E na charla foi levando a conversa para o que lhe interessava.
- Como vai o coronel? – perguntou. – E dona Maricota? Tão bem. Principalmente ela...
- Tão bem! A coronel com saúde de ferra. E o dona Marricota...
- Fala, vivente. E a dona Maricota?
- Tá bem.
- Ela ainda está fazendo aquilo com o Ezequiel, lindeiro do coronel?
- Aquilo o que, homem?
- Te faz de besta, tchê. Colocando chapéu de vaca.
E antes que o alemão pudesse pensar em uma saída, lascou de vez:
- Me conta tudo. Como é que acontece?
- Bão, é a seguinte, ser Turcon!
E o alemão Doitchê contou que à noite, quando o coronel Limoeiro saía para o jogo de bingo, o Ezequiel se esgueirava junto à janela do quarto onde dormia a Maricota. Batia de leve e a chinoca saia mato afora com o gaúcho. E as lambanças ocorridas no capão de mato ninguém sabia, mas adivinhavam bem o que acontecia.
- Porrr mal le perrrgunte, seu Turrrcão? Qual sua interessa?
O militar tossiu, disfarçando os verdadeiros intentos, que eram de tirar casquinha naquele forrobodó. A conversa terminou por ali mesmo.
Certa noite o cabo estava à frente do Bolicho do Ventania quando mirou o Coronel Lindório entrar. E logo pensou, falando fraquinho:
- O filho de uma égua do Ezequiel está se dando bem.
Nem bem falou, viu que o Ezequiel também chegou.
- É a minha vez! – pensou, faceiro.
Antes de partir para a fazenda deu mais uma olhada na casa de jogo. Com alegria viu o coronel e o Ezequiel entretidos na jogatina.
Quando chegou à casa-grande foi direto aos fundos do quintal. Na escuridão postou-se à janela da Maricota. Deu umas pancadinhas. Lá de dentro a mulher perguntou:
- Quem é?
- Sou eu, amor, vem!
A chinoca abriu a janela e não reconhecendo quem a chamava perguntou:
- Eu quem?
- Eu, o Ezequiel – mentiu o Turcão.
Quando os olhos se acostumaram com o breu, a mulher, não reconhecendo aquela figura, disse:
- Mas Ezequiel, por que tu tá fardado de cabo.
E o Turcão, livrando-se do susto, lascou:
- É que eu tô camuflado.