PAU QUE NASCE TORTO 3

PAU QUE NASCE TORTO

A árvore torta.

Quem passa pela minha porta e vê aquela árvore, lembra-se do ditado "pau que nasce torto, não tem jeito morre torto". É, algum filósofo ou intelectual, deve ter dito de primeira mão este ditado popular.

Dar-lhe razão, é provável que se caia em lugar comum, mas desta árvore minha conhecida de muitos anos, tem outra estória.

Lembro-me bem, como se fosse ontem, estes vinte cinco ou mais anos que se passaram. Conversava eu com o Sr. João, jogando fora mais um “dedo de papo”, quando na porta da garagem da minha academia, alguns veículos envolveram-se num acidente. Daí a minutos, o burburinho formava-se em nossa porta, mulheres falando alto, algumas muito nervosas, outras nem tanto, um pouquinho só. O trânsito enlouquecia-se frenético ao aproximar o horário do "rush". Incrível horário do meio dia costumo chamá-lo também de "passa fome".

Dentro do buzinaço barulhento e dos "tititis" das comadres e nós, compadres da redondeza, notei que um ônibus da HP arriscava uma manobra ousada. Até parecia que ele estava meio bêbado, ou o que me parece também meio cheio de bêbado. Subiu no meio fio, arrastou o pequeno arbusto, bêbado, passou para a pista da conta mão, buzinando e com os faróis acesos, rompeu os contra fortes da Rua 15, onde novamente voltou a mão, descarregando ali alguns bonecos, automaticamente catando outros.

A árvore, ou melhor, o arbusto, ficou ali na ilha, sua morada, rastelado, juro se tivesse sangue, agora estaria jorrando, mas ficou imóvel como a sua origem, aguardando o porvir de sua espécie.

O ônibus bêbado não saiu desembestado pelas bandas da Av. T-8 ziguezagueando entre carros e motos, cumprindo o cansativo itinerário diuturno.

Acho eu que ninguém percebeu a desdita da árvore, não é mesmo? E para incomodar-se, o que é uma árvore torta para a humanidade? Nada de nadiquinha.

Só vejo em minha imaginação o "busão" bêbado da HP, fervilhando a rua de fumaça de óleo diesel, até chegar na praça final de linha, levando o seu radiante motorista para abastecer-se da pura branquinha, encontrada em todos os botecos circundantes daquele local público.

E a humanidade? Ninguém percebeu nada, uma geração depois, a pequena árvore é um robusto arvoredo torto da AV D, e o motorista nem mais se lembra da sua barbeiragem.

No tudo mais, vai bem obrigado.

Goiânia, 07 de março de 2009.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 12/04/2009
Código do texto: T1534721
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