CONSULTA CAMPEIRA

O Doutor Policarpo estava sentado, aguardando os clientes, quando entrou a Lisaura.

- Doutor, tem um cliente para o senhor atender.

- É o primeiro? Manda o vivente entrar e vamos às lidas.

O gaúcho que adentrou na sala era um matuto, averso aos cuidados médicos, pois costumava consultar uma curandeira, quando lhe ocorria alguma doença ou desarranjo. No entanto, a dona Benta foi fazer um parto e o mambira não encontrou outra solução. Teve que ir ao consultório do médico.

Como o índio velho chegou com um passo firme, parecendo estar bem fisicamente, o médico logo imaginou que aquele cliente teria que ser encaminhado para o Analista de Bagé.

- Te senta, tchê! O que te trouxe aqui?

- A carreta de boi, doutor.

- Eu sei, animal! Sei que o que te trouxe aqui. Espero que tu não puxando a carreta.

- Pois é...

- Não é isto! Eu quero saber o que te trouxe aqui? – disse o Doutor Policarpo.

- Minha doença, doutor.

- Qual é o raio desta doença? – perguntou o médico, colocando as luvas de borracha.

- A barriga, né? – confirmou o caipira, fitando desconfiado para as luvas.

O médico mandou que o matuto deitasse na mesa de exame. O gaúcho não queria por nada deste mundo e, encostado em um dos cantos da sala, não arredava pé.

- Te deita no pelego, tchê.

- Não, não deito.

- Te deita, vivente.

- Não deito.

- Deita logo, diabo!

- Não deito. Só se o doutor me prometer algo.

- Prometer o que, animal?

- Que não vai me enfiar o dedo no... no... no... na recavém..

- Que recavém, vivente.

- No traseiro, doutor – afirmou o gaúcho, encostando-se na parede.

- Te deita logo aí, tchê! No vou te fazer nada disto.

Mesmo assim, o paciente não quis obedecer. Foi preciso chamar a Lisaura. O auxiliar agarrou o matuto, prendeu-o com a corda de cinco tentos, e deitou-o na mesa de exames. Apresilhado, o gaúcho ficou inerte.

- Tens evacuado? – perguntou o médico.

- Como? – indagou o paciente, sem entender.

- Defecaste? – insistiu o doutor. Policarpo.

- Como? – indagou mais ignorante ainda.

- Eliminou fezes?

- Como?

- Bostaste, tchê? – gritou o Doutor Policarpo, já sem muita paciência.

- Ah, doutor, isto sim! Uma vez hoje.

- Arre! Livraste o fiofó, vivente!

A Lisaura saiu do consultório às gargalhadas.