HORÓSCOPO
Num supetão, o coronel Limoeiro entra no consultório. Olha de través pra Lisaura e vai direto ao médico. Pela mão arrasta a Chiquinha, que esperneia não querendo entrar.
- Compadre! Tou carecendo de seus préstimos.
- Pois não, amigo velho. Te aprochega – disse o médico
- Só que não é préstimo como compadre não.
- Como é então, vivente?
- É como médico. Preciso do compadre como médico.
- Então desembucha, tchê! Qual é o causo? O que se passa contigo?
- Não é comigo! – apontou à moçoila. – É com ela! Tou meio desconfiado desta guria.
- Essa sapeca sempre me aprontando. Toda hora vai pro capão de mato lá na fazenda. Antes, eu não me preocupava. Depois que ela voltava sorrindo, me deu na telha. Tenho que tirar a dúvida.
- O perigo é se puxou pela mãe!
- Quê?
- Nada! Nada!
- Se eu pego o que ela tá fazendo, nem quero pensar. Se for o que imagino, capo o gambeteiro.
O esculápio pega a guria pela mão e a deita na maca. O fazendeiro fica esperando a consulta junto à Lisaura. O médico sai do consultório e coloca a mão no ombro do coronel Limoeiro.
- É virgem, doutor? – perguntou de supetão o estancieiro.
- Foi bom falar em virgem, compadre! O amigo conhece este negócio de horóscopo.
- Horóscopo? Aquilo que tem os signos? Capricórnio, câncer, Escorpião e por aí...
- Isso mesmo, compadre!
- Então o causo dela é mesmo de horóscopo.
- Sem dúvida alguma.
- A Chiquinha é de setembro. É virgem! – falou o coronel.
- Então tá explicado. Virgem ainda é.
Malicioso, o doutor aponta para guria e lasca.
- Na verdade tem peixe no entrevero!
- Peixe?
- É! Tem rasto de muçum por todo lado – apontando as entrepernas da sapeca. – E é dos graúdos, tchê! – espalmou as mãos, mostrando o tamanho do bicho.