O INVISÍVEL

No hospital Psiquiátrico existia um paciente louco de atar que, de vez em quando, afirmava que ficava invisível. Entrava em transe, tremia todo o corpo e, num estranho ritual, exclamava:

- Oh! Tou ficando invisível!

E concentrando-se finalizava:

- Fiquei invisível!

E não tinha médico que curasse aquela maluquice. Ele se julgava invisível e pronto.

Certo dia, um plantonista do turno da tarde disse dois futuros esculápios:

- O paciente Januário está num dia daqueles.

- Qual Januário? – perguntou o Policarpo.

- Aquele que fica invisível.

- Ah! Aquele! O que é que está acontecendo?

- Não sei bem. Hoje ele tá trimaluco. Ficou invisível, na cabeça dele é claro, um montão de vezes.

- Oigalê! – exclamaram ao mesmo tempo.

- Ele foi medicado? – perguntou um deles.

- Sim, no entanto não adiantou muito. Tiveram que amarrar no leito.

O médico do turno da tarde foi embora e os estagiários ficaram cuidando dos pacientes. Lá pelas onze horas da noite, enquanto o outro estudante de medicina dormia, o Policarpo passou pela enfermaria. O Januário foi logo dizendo:

- Pô, companheiro! Me dá uma colher de chá. Te acolhera com minha dor! Me desmaneia daqui.

Falava coerente, parecendo que, durante o dia, nada tinha acontecido. O Policarpo resolveu soltá-lo.

- Vê o que vais fazer – advertiu.

- Pode deixar, amigo, tou bem – esclareceu o paciente.

O louco ficou solto, permanecendo deitado na cama, bastante calmo. Como estava tudo em ordem, o Policarpo foi à Copa de Unidade de Internação tomar um chimarrão, pois tinha sido convidado pelo pessoal da enfermagem. O paciente ficou sozinho no quarto. Ao voltar à enfermaria, o Policarpo viu que o leito estava vazio. Avistou no chão a calça e o jaleco hospitalar do Januário.

- Xi! O invisível escafedeu-se!

Saiu imediatamente atrás do fugitivo. Antes passou pelo quarto onde o primo descansava. Sabia que só ele poderia ajudá-lo. O colega seria psiquiatra e ninguém melhor para acudir naquela situação.

- Cara! Aconteceu o impossível.

- Como assim, tchê?

- Lembra do louco que fica invisível?

- Lembro!

- Pois ficou invisível. Desapareceu!

O outro estagiário, que já possuía a pinta e conhecimentos de psiquiatra, declarou:

- Invisibilidade não existe, tchê! Nem a psiquiatria explica, nem doido pode desaparecer no ar desta maneira. Vamos procurar que ele deve estar por aí.

Procura daqui, campeia dali, e nada de achar o “invisível”. Resolveram ir ao Posto de Enfermagem. Quando chegaram perto, depararam-se com uma freira, sentada à mesa, com a cabeça abaixada, escrevendo o relatório de trabalho. O paciente Januário estava de pé em frente à religiosa nu em pêlo. Ela, distraída nos afazeres, não percebera a presença do maluco. Os estudantes se aproximaram fazendo barulho. A irmã de caridade ergueu a cabeça e, ao ver aquele imenso homem inteiramente despido, assustou-se e gritou:

- Aiiiiiiiiiiiiiiii! O que é isto?

Com o grito, o louco também levou um susto e berrou:

- Aaaaaaahhhhh!

Logo após, voltou-se para sua própria nudez, tapou os genitais e, todo envergonhado, concluiu:

- Me adescurpa, ermã. Eu pensei que tava invisível.

Segundo contam, a freira deixou de trabalhar para os vivos e foi labutar na clausura os trabalhos do espírito.