BEBEDEIRA
O compadre Bitica e o Zuli se encontraram. As caras de sono demonstravam a noite maldormida.
- Ei, compadre – referiu o Zuli. – Vem cá! Quero falar contigo. É verdade a fofoca?
- Sobre?
- O passamento, tchê! O velório!
- Ah! Que é que tem?
- Me falaram que o Malaquias bateu com a cola na cerca!
- É, bateu as botas. Passou-se o índio velho.
- Quero saber a verdade! Todo mundo tomou canha. Que houve um baita porre durante o velório.
- É, mais ou menos! Mais ou menos!
- O Jacozinho, me disseram, teve umas atitudes que vou te contar!
- É verdade.
- Mas ele fez tudo isto que estão espalhando por aí?
- Não e que fez.
- Barbaridade, tchê! Os mexericos é que ele não lembra de nada, de tanto que bebeu.
- Pois é, a pinga faz cada uma, não é mesmo? E ele não recorda nada mesmo.
- E o Terêncio? Queria mesmo brigar? Falaram que o Turico passou a mão na... na... na recavém da viúva. O Antenor caiu podre de bêbado em cima do caixão do defunto? Tão dizendo que eles não lembram nada daquilo que fizeram.
- É a pura verdade! Tão de lembrança curta.
- Então queres dizer que todo mundo bebeu? E não sabem o que fizeram?
- É, nenhum deles lembra.
- Pois é, fico envergonhado. Vão ao velório e aprontam! Depois esquecem o que fizeram.
- É verdade. Deu um branco em todo mundo.
- Então, compadre, me refresca a memória. Desembucha só pra mim.
- Desembucha o que?
- Eu, por acaso, por ventura, estive por lá?
- Tu também não lembra nada, né? – disse o Bitica, encerrando a conversa.
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