GAÚCHO VALENTE
Certa vez, o coronel Lindório mandou um peão debulhar milho no galpão da estância. Era noite e o conchavado trabalhava sob a luz de um candeeiro. Enquanto fazia a lide, pensava nas carreiradas do domingo. Ainda mais que a Chiquinha, guria de seu coração, estaria na cancha reta.
De repente, ouviu um estranho barulho. Assustado espalmou a mão na orelha e ficou escutando. Parecia um chocalho. E aquilo vinha detrás do galpão.
- Ala pucha, tchê! O que será isto?
Largou a espiga, levantou-se e encostou o ouvido na parede. O minuano aquietou-se e o capim santa-fé também silenciou.
- Será cascavel?
Corajoso, o gaúcho foi ver o tal barulho. E descobriu, ao lado de um caraguatá, uma enorme cobra. E era cascavel mesmo. O guizo denunciava isso. Não teve dúvidas, voltou ao galpão, deu de mão em um fueiro e foi enfrentar o bicho. Na escuridão matou o bicho com uma certeira paulada na cabeça. Ia voltando ao galpão quando lembrou que o causo, se contado ao redor do fogo de chão, não seria acreditado pelos conchavados. Vou à cobra e, na escuridão, cortou o chocalho da peçonhenta.
No dia seguinte, foi ao local com seu compadre Malaquias. Apavorado avistou duas cascavéis: uma com a cabeça esmigalhada e a outra com o rabo cortado. Foi então que percebeu que a cobra morta à paulada ainda estava com o guizo. Aquela que tirara o chocalho era outra, da qual arrancara a cauda, ainda viva.
O valente caiu duro no chão, desmaiado, enquanto o Malaquias corria em direção ao galpão, procurando socorro.