ARROZ FRIO

A mando do coronel Lindório, a peonada tinha levado uma manada às charqueadas. Na volta da lida, os gaúchos viajavam há vários dias. Naquele entardecer resolveram repousar, porquanto os cavalos precisavam de urgente descanso. Avistaram no descampado uma casa. Fincaram as esporas nas montarias e chegaram bem no momento em que uma velha gorda abria a portinhola da frente.

- Buenas, comadre! Como vai vosmecê? – perguntou o Salustriano, com um sorriso no rosto, tentando parecer simpático.

- Boa-tarde – respondeu a velhota, torcendo o nariz.

- Estamos cansados. Será que a senhora não tem um pouso?

- Não posso dar pouso – avisou. – Moro sozinha e não pega bem a casa cheia de homens.

Conversa daqui, conversa dali, a matrona concordou em ceder um dos quartos. E com a testa arrugada avisou:

- Não tem comida!

Para não perderem o pouso, mesmo estando famintos, os gaúchos aceitaram a oferta e foram deitar.

Enquanto a peonada dormitava, o Salustriano, através do nó na madeira, viu a matrona guardar um pouco de arroz. Levantou-se e sem fazer barulho foi em direção à cozinha e pegou a panela. Tentou voltar ao quarto, onde poderia comer mais descansado, sem que a dona da casa percebesse. No breu do corredor, o gaúcho errou o trajeto e, sem saber, entrou no quarto da velhota. Com a visão atrapalhada não percebeu que a mulher dormia completamente pelada. Sentou-se no chão, abriu a panela, sem notar que estava perto do traseiro da mulher.

De repente a velhota soltou um pum, daqueles que sai só o vento. Julgando estar no quarto com os companheiros, e imaginando que algum deles quisesse um pouco da comida, o Salustriano foi logo avisando:

- Não assopra que o arroz tá frio.