O PUNHAL DO CASTELHANO
Noite quente, o coronel Lindório, num repente, chegou ao galpão de capim santa-fé. Ao seu lado estava um taciturno sujeito. E foi logo avisando:
- Ele vai se aquerenciar por aqui esta noite!
O recém-chegado olhou ao redor, tapeou a aba do chapéu e deu um singelo cumprimento.
- Buenas!
Sem mesuras, os peões devolveram a saudação. O visitante ajeitou-se num canto do galpão e lá ficou escutando os causos.
Quando restavam poucas brasas do fogo de chão, a gauchada resolveu descansar. As lides do dia seguinte seriam de grande monta. Mas eles não conseguiram dormir. A mosquitama estava infernal e passavam zunindo por entre os peões. Alguns gaúchos tapavam a cabeça com o pala. Outros brandiam o relho, tentando espantar as muriçocas.
Foi quando o velho Taurino gritou:
- A la pucha! Quer noite, tchê! – E levantando dos pelegos avisou: – Já volto!
- Adonde vais, vivente?
- Vou dar um jeito nesta bicharada.
Voltou com um punhado de esterco e cascas de laranja. Remexeu as brasas e colocou aquela mistura no fogo. Não demorou muito e o ambiente ficou tomado por densa fumaça. A mosquitama fugiu. Menos um que ficou dentro do galpão, voando rente as orelhas dos gaúchos.
No canto, o castelhano mal dormitava. E se irritou com aquele último inseto.
- Que disparate! Estos mosquitos brasileños son peores que los mosquitos castellanos!
- É verdade! – concordavam os brasileiros, com certo orgulho.
- Mosquito, quedate tranquilo que ya va a llegar tu hora! –disse, furioso.
Dito a ameaça, pegou na guaiaca um punhal com uma ponta afiadíssima. Num rápido gesto lançou a arma para cima. O silencio imperou no galpão e puderam dormir tranqüilamente.
De manhã, acordaram com um som que vinha do alto. Olharam e avistaram o pernilongo, imprensado contra uma vara de eucalipto, lamentando-se com sua tristonha música.
Não é que o raio do castelhano, com uma certeira pontaria, prendeu o mosquito pelas asas.