Prólogo:
Este causo é também uma daquelas histórias "verdadeiras" que escutei de amigos há algum tempo atrás. Se vocês já a conhecem, paciência, aqui vai a versão que me contaram.

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Uma senhora, na rotina do corre-corre de sua vida, alcança seu ônibus que estava prestes a zarpar. Como sempre, foi um custo para subir pois o mesmo já estava lotado.  Depois de se espremer entre as toneladas de barrigas, bundas, braços e etc, conseguiu chegar até o meio do veículo para segurar-se num encosto de um assento. Neste dia, porém, estava com sorte. Uma pessoa  que estava sentada no banco em sua frente levantou-se para saltar.  Que sorte, conseguiu um lugar para sentar e perto da janela !  Respirou, abriu mais o vidro da janela para respirar e pensou o quanto aquelas idas e vinda para o trabalho estavam deixando-a cansada e estressada.

Mal começou a relaxar, sentiu que um novo problema ia começar. O senhor que estava sentado perto dela, homem  com muitos quilos acima do peso, de tez escura, muito suado e agitado, estava encostando-se muito em seu braço e sua perna. A cada freio ou curva do ônibus, ele aproveitava para, literalmente, "cair" em cima dela.  Olhou-o zangada algumas vezes como para alertá-lo que aquilo alí não era "sua praia" mas começou a ficar desconfiada de sua insistência. O moreno continuava "caindo" em cima dela e fazia uma cara de quem "nada queria". 

Milhões de pensamentos começaram a passar pela sua cabeça. Estava quase a beira de um ataque de nervos quando começou a desconfiar que , além de estar sendo assediada lascivamente, também poderia estar sendo vítima de tentativa de furtos. Num sobressalto, olhou para seu braço esquerdo que já estava dormente de tanto ser esmagado pelo braço do don juan locomotivo e notou a falta de seu relógio. Sim!!!! Entendera tudo naquele momento! O safado estava se encostando para roubar seu relógio! Num impulso , tomou uma atitude corajosa, pra não dizer suicida.   Encostou-se no don juan ladrão e disse muito convicta ao seu ouvido:
_ Escuta aqui, ô ordinário, sei exatamente o que você fez. Conheço bem tipos como você e não tente me enganar. Vou te dar uma chance: pegue o relógio e enfie discretamente aqui na minha bolsa, senão vou fazer um escândalo neste ônibus e tu vais levar a maior surra de tua vida antes de ir direto pro xadrez.   Vamos rápido! Vou contar até três.

O moreno, gordo, suado e nervoso, apenas replicou:
_ Calma, dona, já vai.
Meteu a mão no bolso, pegou o relógio, enfiou rapidamente na bolsa da senhora e continuou com o rosto lívido pelo susto. E ela completou:
_ Agora, desça do ônibus, seu filho-da-puta, antes que eu me arrependa e comece a gritar aqui. Nem precisou um segundo aviso e a criatura saltou rápido do ônibus.

Aliviada, a senhora heroína, sentiu-se plena de felicidade e muito orgulhosa do que tinha feito. Que moral! Resolveu só colocar novamente seu relógio depois que chegasse no trabalho para evitar novas tentativas de furtos.  Ao chegar em sua sala, remexeu sua bolsa e encontrou o relógio, só que, para seu espanto, o relógio não era seu!!! Aturdida, ligou para casa e pediu a filha para ver se havia esquecido o relógio em casa.
_Sim, mamãe! Está na mesinha de sua cabeceira. Você esqueceu de levar.

Chocada, ficou a pensar que fora injusta com aquele sujeito do ônibus. O relógio que ele havia colocado em sua bolsa era um modelo masculino. Possivelmente era dele mesmo. Ou quem sabe, pela facilidade com que ele entregou, talvez tenha roubado de outra pessoa. Sentiu-se envergonhada e com cara de ladra.  Precipitou-se e fez um julgammento àquele homem e, ela mesma, havia praticado um assalto à grito armado!

Acreditem se quiser!