O Fantasma de Umuarama
Ninguém sabe ao certo quando aconteceu, mas uma senhorinha, já nos seus quase sessenta anos de idade, estava lavando a louça numa daquelas casas do último quarteirão, ou o primeiro, da Avenida Maringá, perto da Copel. O Carnaval havia terminado há uma semana, era uma dessas tardes de quaresma tipicamente umuaramenses, quentes, com um sol de rachar coco, porém úmidas pelas chuvas esporádicas dessa época do ano.
Lá da cozinha ouve baterem palmas no portão da sua casa. Ao atender o chamado encontra um jovem magro, nariz pontudo, sem camisa e de pele um pouco queimada do sol. Tinha cabelo escuro, encaracolado, um pouco comprido e bem volumoso. Ele transpirava feito parede de sauna e respirava cansado. Ela se adianta e diz:
- Boa tarde.
- Oi, boa tarde. Desculpa incomodar, mas a senhora poderia me arranjar um copo d’água?
- Claro.
- Bem gelada... se for possível...
- Pois não, espera só um tiquinho.
Então a mulher volta para a cozinha, pega um copo, capricha na água e leva até o rapaz sedento.
- Aqui está a sua água, moço.
- Ah, muito obrigado!
Numa golada só o rapaz bebe toda a água e imediatamente olha para a senhora, mas seus olhos estavam completamente negros, como os de um tubarão. Ele coça a barba, por fazer, dá um sorriso largo e mostra os dentes todos pontiagudos. A mulher arrepiou-se até as unhas com aquele sorriso que, apesar de amedrontador, expressava uma imensa gratidão e satisfação.
- Muito obrigado mesmo! – agradece outra vez e desaparece num piscar de olhos, com copo e tudo.
A senhorinha, coitada, solta um grito lancinante de pavor e desmaia. É acordada pelos vizinhos aos quais conta o insólito acontecimento e descreve o rapaz que, após algumas especuladas descobriu-se ser um dos três linchados e queimados na praça Miguel Rossafa em Dezembro de 1986, logo ali, na rua de cima da sua casa.
Dizem que após o ocorrido a mulher ficou muito abalada, meio louca e alguns meses depois já não morava mais em Umuarama. Mudou-se com o marido pra não se sabe onde. É curioso como a sua incrível história permaneceu na boca de poucos. Até agora.