Salta Moita

Salta Moita tinha braços e pernas finos e compridos, rosto magro e cabelos crespos e grandes, barba sempre por fazer e um andar que parecia que cairia a qualquer momento, parecia ter acabado de sair de um livro do Graciliano.

Não se sabe o por quê de seu apelido e muito menos seu nome verdadeiro, até sua esposa o chamava assim mesmo, Salta Moita, que ele sempre atendia com um mau humor digno de qualquer Lunga que se preze.

Também não se sabe como ele conseguiu comprar uma casa no Beco da Bosta, na verdade um barraco, quase que caindo aos pedaços, onde vivia com a mulher e cinco filhos.

A vida não ia lá muito boa para Salta.

Tinha mesmo era vontade de possuir um carrinho, de aprender a dirigir, de botar a patroa e as crianças dentro e sair pelas roças de Euclides da Cunha, onde não tinha parentes, apenas amigos de bar...

Até que um dia Salta Moita ouviu que alguém queria trocar um corcel em uma casa, não pensou duas vezes e foi ele mesmo fazer a proposta.

Não adiantaram as súplicas de sua esposa (nunca soube seu nome), nem o choro dos meninos. Iriam morar no carro e tava decidido.

Os vizinhos disseram que era loucura, os amigos de mesa também, mas Salta estava mesmo decidido, teria, enfim um carro.

A troca inevitável aconteceu num dia de domingo, e aos trancos e barrancos lá se foi Salta e os Saltinhas dando arrancadas abruptas pelas ruas de Euclides da Cunha.

Próximo ao estádio conseguiram um lugar para se arrancharem, e por lá ficaram.

Gasolina pela hora da morte e Salta perdeu o encanto pelo carro.

Nas noites de frio alguns dos meninos dormiam no carro e outros no buraco que Salta tinha feito na parede do estádio, que no espaço entre as arquibancadas e o muro dera uma ótima caverna.

Com quase nada a ser feito, Salta começa a negociar peças do carro na oficina do Bahia.

Em pouco tempo a sucata não tem nem mais pára-brisa.

Passa-se o tempo e Salta quer agora uma bicicleta, e tão rápido quanto se pensa, consegue, enfim, se livrar daquele entulho, na troca por uma barra-forte circular, verde com o escudo do Vasco da Gama, que ele como bom flamenguista logo trata de tirar.

E dia após dia Salta passeia das Populares ao Centro em sua bicicleta, a “verdona” como ele acostumara a chamar.

Época de preá nas roças e os meninos com fome.

Dói no peito ter que trocar a verdona por uma espingarda de “soca”... Mas fazer o quê? Pai de família responsável que é, não vê outra alternativa.

Iria caçar preá, quem sabe venderia alguns e ainda ganhar um dinheirinho prá pinga no bar do Elias.

A última vez que ouvi falar do Salta Moita tinha sido preso por porte ilegal de armas...

David Souza
Enviado por David Souza em 23/03/2009
Código do texto: T1501572
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