BRIGA DE VELHOS.
BRIGA DE VELHOS
E não é que teve um amigo chamando minha atenção! Não entendi quando ele me parou na rua com o dedo em riste:
- To pe da vida com você!
- Ué! Que foi que eu fiz?
- Vai dizer que não sabe? Ta pensando que sou besta?
- Pensar eu não penso. Tenho certeza. Não to é sabendo o motivo da bronca.
- Você ta tirando sarro na minha cara?
- Até agora, não. Explica!
- Você me gozou em uma daquelas porcarias que escreve!
- Eu?
- Tem mais alguém aqui? Tem mais alguém que escreve merda?
Fiquei meditando. Ele ali parado na minha frente. Realmente a figura nunca me inspirou qualquer tipo de criação literária. Pensei. Pensei e pensei. Acusação injusta. E eu perdendo um amigo de infância sem motivo.
- Vamos acalmar! Em qual conto, crônica, romance ou poema?
- Engraçadinho! Vai se fazer de bobo?
Sou de boa paz. Pensei em convidá-lo para um aperitivo. In vino,veritas. Ele poderia desabafar e eu entender o motivo de tanta irritação. Depois pensei melhor. Na juventude, quando bebia, ele ficava violento. Melhor evitar. Resolvi optar por um simples café. Ele aceitou.
- Bem amigo. Onde foi que eu te gozei?
- Ele reproduziu o conto, publicado recentemente em uma antologia.
- Estou feliz em saber que você é um dos meus leitores. Sinal que não escrevo assim tão mal.
- Mas você não podia ter contado aquela história. Como é que eu fico? Transformado em personagem patético?
- Comecei a rir. Ele ficou mais enfezado.
- A história não foi com você. Aliás, você a presenciou. Foi com o Zeca. Foi logo depois da formatura do ginásio. Lembra?
E ficamos ali, recordando o episódio inspirador. Regredimos no tempo. As cenas voltando aos arquivos do cérebro.
De repente uma janela se abre e caio em mim. Tinha sido ele mesmo o protagonista da história. Fui traído pela memória. Troquei os passageiros.
- Desculpe-me. Na minha cabeça era o Zeca. Mas, por que você está tão bravo? Ocorreu há quarenta anos atrás. Já está prescrito!
- É que parece que foi ontem.