O ANDARILHO

Nessas estradas acontece cada coisa, que deus me perdoe, seria bom não ter acontecido, eu vinha dirigindo cansado e entediado, há um passo de tirar um cochilo na direção, o que seria drástico, a musica já não me mantinha desperto a dor nas costas era terrível, o brilho do sol, ás lembranças de casa e a solidão que só era interrompida por uma ou outra ultrapassagem, tornava ainda mais pesadas minhas pálpebras, exigindo uma solução urgente, precisava de companhia, e rápido! Um bom bate papo seria a minha salvação.

Quem sabe uma gata perdida nos horizontes da vida, precisando de ajuda, ia ser o máximo! E de repente o oposto, um andarilho pedindo carona, melhor do que nada, reduzi a velocidade para que o pudesse observá-lo melhor, não queria surpresa, só companhia, usava trajes esportivos e uma mochila nas costas, e ao me aproximar senti confiança e me tranqüilizei, e assim que estacionei, ele correu em minha direção e...

— Bom dia.

Abordou-me de jeito amigável, abri o vidro do passageiro e lhe perguntei:

— Para onde esta indo?

— Para a Rainha do sul.

Também ia para lá, naquela época era onde eu morava, uma cidade pequena porem completa, não me lembrava de já telo visto em algum lugar, e já dentro do carro lhe perguntei:

— Você mora lá?

— Não!

A resposta foi curta e seca, e o pior não abriu espaço para conversa e ainda se virou para observar a paisagem, olhei para o volante e pensei, que saco! E lhe perguntei:

— Ha muito na estrada?

— Estou procurando uma mulher.

— Amiga?

— A que me colocou na solidão.

Abriu espaço para um bate papo, entrei de sola.

— Como assim?

— Minha mulher.

Respondeu-me virando novamente para a paisagem, caso típico de traição, abandono ou coisa desse tipo e ele...

— Nesse mesmo horário eu estava com uma dúvida danada, não sabia o que dar de presente para meus filhos gêmeos.

— Que bom! São idênticos?

— Eram. Terminei comprando duas bicicletas.

— Eram?

— Eu estava trabalhando e a casa pegou fogo.

— Que lamentável! Estavam a sós?

— Enquanto eu dava plantão noturno, ela saia com outros.

Para mim bastou, mudei de assunto sutilmente, comecei a falar do tempo, mesmo assim ele ainda disse:

— Só sobrou as bicicletas que estavam na garagem.

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Foi a ultima coisa que falou durante aquela viagem e de repente, fui despertado de meus pensamentos.

— Quer primeiro uma noticia boa ou uma ruim.

Era o médico que estava me atendendo, o fitei serio, pois estava afoito para sair, tinha que voltar para a estrada e lhe disse.

— A ruim, é claro.

— Foi só uma luxação.

— E a boa?

— E que dentro de alguns dias você esta novo de novo, o que lhe aconteceu?

— Dormi na direção, derrapei, e acabei num barranco.

Agradeci a atenção e fui seguir na minha viagem. A estrada silenciosa ardia no sol a pino, fechei as janelas e liguei o ar condicionado e o radio, de onde uma noticia me chamou a atenção:

— Um crime bárbaro foi descoberto na cidade, uma mulher foi encontrada morta em um quarto de motel e...

O desliguei, achei melhor o silêncio. A temperatura ficou ótima, só o ombro me incomodava, mas dessa vez procurei ficar atento, não queria nenhum acidente, e de novo me senti sonolento e quando olhei para o acostamento, o andarilho que eu tinha levado para a cidade, pedia carona parei e lhe perguntei:

— Para onde você vai?

— Para a Rainha do norte.

— É para onde eu vou, entre!

E dessa vez tivemos uma conversa longa e animada.

DiMiTRi

2/10/2006 23:07