Uma menina
Olhos enormes e negros, cabelos de um marrom queimado, quase loiro, boca pequenina e cor de rosa, mãos feridas.
Ela corria a beira mar, olhava para trás e sorria, era tudo que podia, sorria e corria. Tinha uma bolsa vermelha de mulher em uma das mãos. Nove anos apenas, ela, não a bolsa.
O que fazia na rua sozinha?
Por que corria?
E a bolsa?
Não parou de correr até chegar em casa, quase sem fôlego, abriu a porta de maneira fina e viu aquela mulher de costas preparando algo no fogão, suspirou ao vê-la, comeria comida quentinha. Tinha fome.
Sem uma palavra se quer, estendeu a mão e entregou a bolsa, no mesmo instante foi esbofeteada. A menina viu o movimento da boca, nem um som, chorou, não comeu, dormiu.
Acordou no dia seguinte ainda escuro, era tudo silêncio, silêncio para ela é quietude de imagem. Na cama da mulher, havia um homem, sempre tinha um diferente, a bolsa estava do lado da cama cheia de balas, a menina pegou uma de morango e partiu.
Fez brinquedos de madeira o dia inteiro, não brincou. Bateu pregos, prendeu a pele dos dedos junto à madeira, sentiu dor, sangrou, sujou a madeira de um vermelho que escorria irregular pelo caminhão. Um homem bateu no ombro dela com força e mexeu a boca, silêncio, a pequena limpou tudo. Foram cinco brinquedos naquele dia, então eram cinco reais no final, com duas semanas de trabalho poderia comprar um sapato vermelho para combinar com a bolsa.
Ganharia mais balas...