Conversa ao Pé do Céu
Este singelo conto é imaginativo, porém, se guardar semelhança com qualquer acontecimento real que tenha conhecimento, é mera coincidência.
Uma grande mulher acabara de desencarnar e estava pronta para adentrar nas portas do céu quando foi interpelada por São Pedro:
São Pedro: Oh! Grande mulher! Antes de adentrares no paraíso é necessário responder um pequeno questionário celeste.
Mulher: Tudo Bem! É a respeito de que?
São Pedro: Bem sabes que tudo que é material e tens como posse no planeta representa um empréstimo de Deus e que devemos prestar contas do que foi feito com ele.
Mulher: Sim! Tenho ciência disso!
São Pedro: Pois bem nobre senhora! O que foi feito com o empréstimo que Deus lhe concedeu nesta estada no planeta Terra?
Mulher: Ah! Fiz bons investimentos imobiliários, viajei para muitos lugares, participei de shows e eventos caros, contudo, imperdíveis, comi em bons restaurantes, passeei muito na minha vida! Você acredita que fui ótima com finanças? Antes dos 30 anos estava já financiando dois imóveis e investindo em um sítio da família?
São Pedro: Brilhante! Você realmente é muito disciplinada! Desde quando obtiveste sua independência financeira?
Mulher: Desde que comecei a trabalhar! Antes de adquirir os meus primeiros bens, foram seis anos de trabalho árduos!
São Pedro: Muito bom! Consta aqui no meu relatório, que mesmo com sua independência financeira, você ainda viveu sob o mesmo teto da sua mãe que absorvia grande parte das despesas cotidianas. Conclui-se daí que, muito provavelmente, você não teria adquirido, tão jovem ainda, tantas posses se tivesse realmente uma independência real, correto?
Mulher: Pode-se dizer que sim!...
São Pedro: Bom, você não deixa de ter seus méritos por conta disso. Continuando, consta aqui também que você teve um irmão consangüíneo que teve muitos problemas financeiros nesta mesma época.
Mulher: É mesmo...
São Pedro: Consta que nesta época ele tinha três filhos ainda pequenos e uma esposa que vivia para cuidar da casa e das crianças e que ficou desempregado quando estava começando a pagar uma dívida acumulada de mais de 50000,00!!! Que rombo né? Realmente vejo aqui que ele errou muito no passado e estava se endireitando nesta época, mas o desemprego o pegou em cheio...
Mulher: Pois é! Este meu irmão nunca foi controlado e não tinha educação financeira nenhuma... Estava pagando pelas burradas que ele próprio cometeu.
São Pedro: É mesmo! Ele errou bastante. Mas, sendo seu irmão e tendo você tantas condições, você o ajudou de alguma forma? Algum sacrifício? Você tinha investimentos em 3 imóveis.
Mulher: Não achava justo eu me sacrificar por causa de erros dos outros. Lutei tanto para conseguir tudo que tinha na época. E, além disso, ele merecia a lição.
São Pedro: Justo! Mas gostaria de alertá-la que a única didática perfeita para ensinar um ser humano é a didática de Deus, cabe aos homens auxiliar o próximo na caminhada com todos os recursos que lhe forem possíveis. Quem sabe Deus a dotou de recursos naquele momento para justamente amparar o seu próximo mais próximo representado por um irmão consangüíneo?
Mulher: Pode ser! Mais este meu irmão precisava aprender! É muita irresponsabilidade!
São Pedro: Oh! Mulher! Lembre-se sempre da didática perfeita! Consta aqui também outras possibilidades de ajuda. Seu irmão tinha parte no apartamento que usufruístes para aquisição dos seus bens, correto?
Mulher: Sim. E ele não utilizou durante este período. Quem mandou casar cedo e ter filhos cedo?
São Pedro: Pois é! Você contribuiu com algum valor neste período que ele "abdicou" do uso, indiretamente, em seu benefício?
Mulher: Não. Não concordava que tivesse este direito.
São Pedro: Hum...! O que você fez para auxiliá-lo neste que foi para ele um de seus piores momentos?
Mulher: Emprestei para ele 2000,00 !
São Pedro: Melhor que nada, pelo grande montante que devia... Sem juros?
Mulher: Não, juros comerciais... Era um dinheiro que anteciparia parcelas de boletos de um financiamento.
São Pedro: Houve algum sacrifício? Caridade real?
Mulher: Claro! O de não quitar antecipadamente os boletos...
São Pedro: Hum...! Mais alguma coisa?
Mulher: Ajudei-o a receber um dinheiro que era dele de direito. Ele conseguiu receber os atrasados e não me deu nenhuma bala!
São Pedro: Que Malvado! E você não cogitou de ajudá-lo comprando a parte que lhe era de direito no apartamento?
Mulher: Não! Preferi investir nos 3 imóveis dos quais já falei para você.
São Pedro: Hum...! Mais alguém da família poderia comprar a parte dele ou parte da parte dele?
Mulher: Sim, havia uma prima minha que tinha um dinheiro para investir, mas preferi orientá-la a investir no sitio.
São Pedro: Hum...! Alguém iria morar neste sitio para tamanho investimento e urgência que não poderiam ser canalizados no auxílio ao irmão irresponsável naquele momento?
Mulher: Meu tio! Mas os investimentos eram para uma ampliação na construção que não tinha urgência para alguém morar naquele momento.
São Pedro: Hum...! Saindo dos aspectos financeiros, consta que você poderia apoiar e facilitar a entrada da família no apartamento que era de direito dele também na mesma proporção que a sua, aliviando assim, um pouco as despesas mensais dele. Afinal que direito adicional você tinha que ele não tinha?
Mulher: Poderia, mas sabe como é... Ia ficar apertado, barulhento, teria que agüentar os pirralhos em casa, pois meu apartamento não havia “saído” ainda e queria sossego para ficar aguardando.
São Pedro: Hum...!
São Pedro (após longa pausa): Bom! Era isso que eu tinha como questionário!
Mulher: E então? Posso entrar?
São Pedro: Claro! Aqui não barramos ninguém nobre mulher! Apenas fazemos o questionário para controle. Entre se achar que merece!
(A mulher entra no portal do céu feliz da vida cantarolando sob o divino som das harpas dos Arcanjos...)
Enquanto isso, o irmão irresponsável e culpado pelas mazelas de sua família trava um pequeno diálogo com Satanás no portal do Inferno!