Entrando de Gaiato
Estas coisas acontecem nas esquinas da vida.
E lá eu de novo, em minhas andanças e paragens, e desta vez em uma Venda no sertão mineiro, onde tudo que acontece nas redondezas o dono da Venda sabe.
A safra daquele ano não estava lá estas coisas e o que se falava na região era da praga das lagartas.
As famigeradas invadiram as plantações e quem acudiu a tempo, salvou alguma coisa.
Nisso, haja paciência para muitos.
O Seu Zezé o Vendeiro, sabendo da má fase dos plantadores, atendia a todos do mesmo modo que antes, quando a safra era estrondosa.
Eu desta vez pedi uma cachaça, pois o Seu Zezé fritava uma linguiça caseira e aquilo os vermes coçavam e nem pro Santo sobrava.
Nisso entra o Mandruvachá cabisbaixo, pensativo e incisivo diz:
- Seu Zezé! Bota uma pinga pra mim, hoje eu tô estrupiado de tanto batê inchada e vô bebê uma pra mode alegrá!
E ali ficamos a conversar e bater um dedo de prosa.
Numa mesinha de madeira surrada, os amigos do Seu Zezé jogavam aquele truco e assim o tempo ia passando.
Nisso chega num carrão, um senhor bem trajado, cavanhaque bem feito, e fumando charuto.
Este pediu uma cerveja e gentilmente o Seu Zezé o serviu. E ele começou a contar algumas vantagens, coisas da cidade grande e volta e meia falava:
- Vocês tem que ir é para cidade grande! Lá tem muito recurso! mais diversão... lá é que é viver! Lá se joga o pôquer!
Como o matuto não é de entrar em conversa dos outros, ficaram calados, ouvindo aquele que em certos momentos, contava algumas vantagens.
O moço da cidade levantou-se, pagou a conta e quis tirar uma onda com o Mandruvachá que acabara de chegar.
- Olha meu senhor! O Senhor que acaba de chegar, pra onde eu vou tem quantos quilômetros?
O Mandruvachá bebeu a cachaça, saboreou-a pegou um pedacinho da lingüiça como tira gosto e:
- Óia moço! Nóis nenhum aqui sabe! Mais daqui na iscola tem treis légua ,inté a prosa que vocemecê incontrô num tem distança, e se o Sinhô num tivé cum muitia pressa, vamo inté lá fora queu vô te insiná a num fazê hora cum a cara dos ôto. Aqui no sertão nóis arrespeitia é de acordo ca pessoa.
O bacana deu meia volta, entrou no carrão e saiu numa velocidade!
O Seu Zezé, que acabara de servir mais uma cachaça ao Zé Teixeira que tocav sua viola num canto deu e uma risadinha tímida e disse:
- Vai papudo! Isso é qui dá querê tirá uma de bão!
Esse entrou de gaiato!
Inté pessuale! Mais um causo do nosso nobre sertão!