Brincadeira de mau gosto

Trabalhei em uma empresa nos anos 70. Era uma empresa de ferragens, material de construção e eletrodomésticos. Era a matriz e mais três filiais, o que somava cerca de 120 funcionários.

A empresa era muito conceituada e disputada por quem desejasse trabalhar com segurança. A cada final de mês o pagamento era feito ‘religiosamente’, sem atraso. Havia um funcionário que fazia o pagamento dos salários diretamente aos colegas, em dinheiro. Como era uma empresa que vendia praticamente de tudo, todos os funcionários tinham descontados de seus salários algumas compras efetuadas durante o mês, os conhecidos vales.

Num desses finais de mês, o funcionário que fazia o pagamento resolveu fazer uma brincadeira com um de seus colegas. Ao fazer o pagamento do seu salário, deu-lhe o que hoje equivaleria a R$ 100,00 a menos. O colega foi para seu setor, contou o dinheiro, recontou e chegou à conclusão que faltavam R$ 100,00. Voltou até o colega tesoureiro e fez a reclamação. Sabendo que o colega voltaria para reclamara, desdenhou e disse que ‘se sobrasse’ no caixa ao final de todos os pagamentos reveria a situação. O reclamante ‘engoliu em seco, mas para sua seção de trabalho calado.

Depois de ter feito o pagamento a todos, o tesoureiro foi até o colega quanto faltava. A resposta foi imediata e o desconcertou:

- Faltou R$ 200,00, disse o colega!

E agora? Como o tesoureiro iria provar que dera R$ 100,00 a menos, sendo que o colega insistia que eram R$ 200. Criado o impasse, o tesoureiro tentou ponderar que tinha feito a brincadeira e dera o dinheiro faltando os R$ 100, mas o colega continuou irredutível. No seu salário faltavam R$ 200 e não R$ 100 como insistia o tesoureiro.

Para evitar uma briga, e já arrependido por ter feito a brincadeira, entregou-lhe os R$ 200, resignado com os R$ 100 que certamente teria de repor ao caixa. Depois de receber, ir até o banco depositar, o colega voltou e confessou que realmente tinham faltado os R$ 100 e não os R$ 200 que recebera. O tesoureiro quis o dinheiro de volta, mas colega aproveitando-se da situação foi bem objetivo:

“Faz um vale pro o mês que vem”.

O tesoureiro não teve alternativa se não o de fazer ‘vale’, sem poder reclamar absolutamente nada como colega, afinal tinha tido a infeliz idéia de fazer uma brincadeira com alguém mais ‘ligeiro’ que ele.

Herivelto (Veto) Cunha
Enviado por Herivelto (Veto) Cunha em 01/01/2009
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