ESNOBE
 
Os homens são tão frágeis e vulneráveis. Tão comuns e óbvios que quase não há macho interessante. Porém, quando Geraldo apareceu, pensei que o conquistaria facilmente. Ledo engano.
E o que você fez?
Bom, ignorei-o, como sempre faço.
Nisso você é mestra Elisa.
É sempre funciona. Primeiro nunca sou antipática. Gosto do jogo da sedução. De vê-los babando por mim. Depois, sinto-me frustrada, pois eles são presas fáceis. Assim como demonstram interesse sexual por mim, demonstram pelas outras. Então fico irritada. Não gosto desse tipo de divisão Camila. Acha que estou sendo exigente?
Olha, como homem anda em extinção hoje dia, o jeito é aproveitar a oportunidade. Você não é recalcada, né?
Eu? Jamais meu bem! Sou liberal; basta um homem saber me levar.
E como deve agir?
Bom uma boa conversa, charme, elegância, higiene, cavalheirismo...
Montado num cavalo branco também?
Pare de ironias...
Elisa acorde!
Calma, e na cama um vulcão insaciável.
Tá e que o Geraldo tem a ver nessa história?
Bom, quando ele chegou ao escritório... ah menina fiquei mexida... Cabelos penteados com gel jogado para trás, terno azul marinho, gravata vermelha com listras amarelo-claro e azul escuro, um perfume Paco Rabanne, sapatos muito bem engraxados, olhos castanhos esverdeados, e com uma simpatia incrível. Porém ignorava-me como uma parede.
Ah é? E o que aconteceu?
Bom, como sempre, coloquei minha saia mais provocante, minha blusa branca apertada, perfumei-me e coloquei meu melhor sorriso. Bom dia, eu lhe disse. Bom dia ele respondeu-me, encantado Geraldo a seu dispor. Uma voz envolvente, um hálito de hortelã, uns dentes perfeitos. Procurei alguma aliança...
E...
Bom, não tinha nada. Aquilo me confortou um pouco. Elisa, disse para ele. Sou gerente de marketing, visito empresas e apresento os serviços da empresa. Sou o novo gerente de importação e exportação, aceita um cafezinho? Claro, não pensei duas vezes. Joguei o meu cabelo de lado, estufei o peito e rebolei sem vulgaridade, mas ele permaneceu sério. Dia bonito não? Aquilo era pergunta?
Não era gay?
Pensei assim também, porém percebi que estava equivocada.
Como?
Bom uma colega veio me dizer que ele beijava bem demais, falou-me da virilidade sentida ao se aconchegar nele. Aquilo me matou. Queria matá-los. Não me diga, respondi. Menina um verdadeiro gentleman. Odiei-a a partir daquele dia. Ele continuou a resistir minhas investidas. Comecei a tratá-lo friamente. Porém ele sempre simpático, derretia-me o coração. Tudo bem? Perguntou-me. Não. Bom, posso fazer algo para ajudá-la? “Sim, convide-me para sair” queria lhe dizer. Problemas de família. Um café ajuda? Ameniza. Na hora do café sua conversa alto astral fez-me cobiçá-lo ainda mais. Até que ele me disse. Sabe a Sílvia? Hum, sei. Estamos juntos há dois meses. A Sílvia? Vocês dois? Sim, por quê? Acho-a meio sonsa. Nada, é um doce de mulher. Na hora minha cabeça começou a doer. Tudo bem? Não, acho que não deveria ter vindo ao serviço hoje. Por quê? Levantei com o pé esquerdo. Olha não quer um doce? Quem sabe te acalma um pouco. Mas nada adoçava meu humor.
E aí?
Bom, tomamos o café. Recusei o doce, dizendo que precisa emagrecer três quilos. Ele disse. Bobagem! Você está muito bem assim.
Eu caminhei em nuvens!
A partir dali haveria uma catástrofe. Eu forjei um amante para Sílvia. Pegamos-nos a tapa e puxões de cabelos. Então fui pedir desculpas a ele. Chorei, abracei-o e declarei-me. Estou te amando. Desde o primeiro dia que o vi. Beijamo-nos, e fomos para a cama finalmente. Nem acreditava que estava com aquele deus grego.
E ele?
Bom demais! Foi carinhoso, viril e nada apressado. Porém, menina no outro dia quando cheguei ao escritório, em minha sala, uma folha:
“PENSÁVAMOS QUE VOCÊ NÃO GOSTASSE DE HOMENS”    
Que brincadeira é essa? Balbuciei
Nenhuma, nós forjamos tudo para ver se você era mulher realmente.
Senti-me a pessoa mais suja e idiota do mundo.
Seus porcos!
Corri dali. Fui para casa. Chorei desesperadamente.
Peraí! Explique-me o quê aconteceu?
Bom, o Geraldo disseram que era michê, e que fora contratado por alguns funcionários para levar-me para cama.
Dois dias depois, recebi uma ligação. Era Geraldo. Disse que estava apaixonado por mim, que não conseguia me esquecer e que precisava me ver.
Não quero vê-lo nunca mais seu hipócrita! O que aconteceu! Contou para o Deus e o mundo nosso encontro no motel. Você está louca!Quem disse isso!? Achei um cartaz em minha sala, e ainda por cima, disseram-me que você é michê. Que doideira é essa?! Quem falou tal absurdo? A Sílvia. Ah, ela. Está com o orgulho ferido. Vamos nos reencontrar novamente? Sim, onde? No mesmo lugar onde estivemos ontem. Então, quando estávamos saindo do motel, Sílvia apareceu do nada e feito uma louca detonou o carro em que ele estava.
Nossa!
Chamaram a polícia e fomos todos à delegacia prestar queixa.
Bom, estamos juntos. Ele mora comigo, no momento está desempregado, nosso amor supera tudo. Dá para passarmos com o meu salário. Ele diz que tem umas entrevistas para fazer e vai me recompensar depois.
Que bom!
Nisso o telefone de Camila toca:
Alô? Oi. Sim, naquele mesmo lugar.
Desligou:
Preciso ir menina, meu marido quer que o encontre daqui à uma hora no shopping.
Vou indo também, vou fazer um jantar especial para o Geraldo. Ele saiu cedo para umas entrevistas.
Felicidades!
Para você também.
Assim, Camila entra em seu carro. Segue para o lugar indicado pelo marido.
Elisa, chega em casa, coloca os pacotes de compra em cima da mesa, quando seu celular toca:
Alô?
Desce agora, preciso falar contigo, urgente!
Que é?!
Sou eu a Sílvia.
Ora va...
Não desligue! É sério! Preciso te mostrar algo!
Como a mulher tem uma curiosidade extrema, resolveu descer para ver o que sua oponente queria.
O quê você quer?
Entra, levá-la-ei a um encontro imperdível.
Elisa virou-se para retornar à sua casa.
Por favor, não tenho nada contra você, acredite.
Ta ok.
Entraram no carro, Sílvia foi seguindo.
Ei! Para onde vamos?! Elisa assustou-se ao vê-la chegando perto de um Motel.
Calma e espere.
De repente Elisa vê carro de Camila entrando com Geraldo ao seu lado.
MISERÁVEIS! – gritou; porém ninguém ouviu, pois eles já haviam entrado.
Vamos lá? Instigou-lha Sílvia.
Não, já vi o suficiente. Com certeza não foram a um motel jogar cartas de baralho ou conversar trivialidades. Olha Sílvia, peço-lhe desculpas. Vamos para casa, preparo um café, enquanto organizo meus pensamentos.
Claro amiga.
Saíram. Ao chegar, Elisa pegou uma chaleira de inox colocou água e levou ao fogão. Lágrimas escorriam-lhe dos olhos. Pegou as xícaras.
Não fique assim, Elisa, eu tentei te avisar, lembra.
Elisa nada disse apenas, desculpe-me. Açúcar ou adoçante?
Adoçante.
Colocou nas xícaras. Pegou o café solúvel. Desligou o fogo colocou a água quente nas xícaras. Pegou uns peti-fours de amêndoas. Sentou-se em frente à Sílvia. Essa se serviu de dois deles.
Sabe, começou Elisa, enquanto Sílvia bebericava seu café, as pessoas nos surpreendem por demais. Nunca imaginei que essa situação aconteceria conosco. Pensei que fosse forte e nunca cairia nas garras do amor.
Realmente, você era tão esnobe...
É verdade, porém, quem manda no coração?
Ta aí outro perigo: o Coração.
Exatamente. E, por esse sentimento, tudo se transforma.
Sílvia, começa a sentir algo de repente. Leva a mão à garganta.
O que foi querida? Elisa se levanta e vê Sílvia agonizando.
SÍLVIA? SÍLIVIA? Chama dando-lhe tapinhas no rosto. Sílvia ainda solta um som fraco, sua respiração está sumindo cada vez mais, os batimentos cardíacos também
Como eu ia lhe dizendo sua vaca ele me contou tudo. Eu sei que ele é michê. Temos um relacionamento aberto. Só não aceito traição. Transar para ganhar dinheiro sim. Por prazer só comigo. Olha, se você não tivesse se envolvido novamente estaria viva, porém, fui obrigada a agir assim. Em boca fechada não entra mosquito, lembra-se? E não meter o bedelho onde não se é chamado, também.
A xícara pende dos dedos de Sílvia caindo no chão, e sua cabeça bate na mesa...

 
 
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21-28/12/08
Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 28/12/2008
Reeditado em 28/12/2008
Código do texto: T1356767
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