Toró em Madureira (cont. de ladrão de conversa alheia)
Era carnaval, o ano impreciso corria pela década de quarenta e a irmã de Mariquinha (nome fictício da dona da história) finalmente conseguira uma autorização para armar na rua, a sua barraquinha de pasteis. Era um desejo antigo que, finalmente, seria realizado. O irmão mais novo, habilidoso que só ele, construiu uma barraquinha de respeito; tinha até uma gaveta camuflada para as notas graúdas que, fatalmente faturariam. O tempo estava firme mas mesmo assim Mário fez uma cobertura com uma lona velha de caminhão. A madeira toda pintada em azul e vermelho, chamativa a barraca.Coisa fina, da melhor qualidade a barraca da irmã de D. Mariquinha . A família em mutirão preparava a massa e os diversos recheios. Alguém com visão empresarial sugeriu diversificar e não ficar só nos pasteis. O acepipe adicional levou o nome de bolinho de frango - acho que era o precursor das cochinhas de hoje - com formato de coxa e com ossinho para segurar. A idéia foi rejeitada e o iluminado continuou no ostracismo. Finalmente a faina terminara e chegou a hora de levar tudo para o ponto devidamente assegurado em Madureira. A barraca era leve e foi facilmente colocada na carroceria de uma caminhonete. Era sexta feira e no sábado, primeiro dia da folia a barraca nada discreta já estaria a espera da empresária e sua equipe de irmãs. Todas ansiosas pela oportunidade de ganhar um dinheirinho extra e bem vindo. Mas, destino é destino. A irmã de D Mariquinha perambulou anos seguidos atrás da licença, sem conseguir. Quando finalmente ela consegue a bendita licença, armou um toró, mas um toró, um toró daqueles, que nada fica nada a dever aos torós de hoje. No dia seguinte quando elas chegaram eufóricas ao lugar marcado, nada de barraca, nada de vendedores, nada de carnaval. Tudo fora levado pela enxurrada e o desânimo era total. D Mariquinha e suas irmãs olhavam para a quantidade de massa de pastel e recheio, conseguidos à custa de dinheiro emprestado. Fora tudo literalmente por água abaixo. A barraca azul e vermelha foi localizada graças a uma foto de jornal, estacionada aos pedaços perto da estação do trem, em Cascadura. Foi nesse ponto da narrativa que D Mariquinha fez aquela carinha traquinas e os olhos brilharam ao soltar a frase - . Nunca comi tanto pastel na minha vida.