A SOGRA, A SANDÁLIA E O MOTEL.
O ENCONTRO E O MOTEL
Tomava água de coco em um quiosque na praia, apreciando a paisagem e o desfile de biquínis, quando notei, em mesa próxima, uma jovem morena, bonita, com traços orientais, bem vestida, com cabelos longos e pretos, usando um charmoso óculos escuros que me impedia a visão de seus olhos e, de certa forma, bloqueando a aproximação de estranhos.
Apesar de interessado, achei inoportuno abordá-la, por mera timidez. Desviei o olhar, ficando com a visão do mar, também belíssimo.
Algum tempo depois, quando já nem lembrava aquela mulher, tocaram o meu ombro e uma cativante voz dizia: “ boa tarde, por favor, pode acender meu cigarro? “
Era ela, com porte fino e elegante, sobremaneira educada, que me solicitava atenção.
Ao me levantar, o isqueiro caiu no chão. Tentei pegá-lo, ela também, batemos de cabeça, desculpamo-nos, sorrimos, e nossos olhares se encontraram...
Iniciamos, naquele momento, uma conversa cativante...
Em seguida, saímos, passeando de carro pela orla, parando de mirante em mirante, quando ocorreu um leve beijo, nada mais, um “selinho” de carinho e afeto.
Começamos a perceber que o afeto e carinho, apesar de ser o primeiro encontro e, em sendo a carne fraca, estavam despertando um crescente desejo que acabou alcançando profunda volúpia, irresistível paixão.
Loucos e em chamas, fomos parar, òbviamente, em um Motel e, ainda na garagem da suíte, mesmo no carro, nos devorávamos como duas criaturas irremediavelmente perdidas de luxúria.
Tempos depois de muito amor, ainda abraçados sobre os lençóis, lembrávamos dos “Wiskeys” que tinham tomado antes e da garra que nos entregamos, um ou outro.
Olhávamos, serenamente nossos corpos, espelhados no teto, em meio da fumaça dos cigarros...
O COMPROMISSO
De repente, um frio percorreu meu corpo ao lembrar o compromisso que havia assumido em levar minha sogra, naquele dia, ao casamento em que ela seria madrinha.
Olhei o relógio, percebi o grande atraso, e, envergonhado, contei o fato a minha acompanhante. Ela, com a grandeza das grandes amantes, sugeriu que eu partisse de imediato, pois ainda daria tempo, visto os constantes atrasos dos casamentos.
Entre beijos, lamentei e pedi desculpas pelo fato, despedindo-me ali mesmo, deixando-a lamentavelmente surpresa, ainda na cama, a fumar o último cigarro, pois não havia outra coisa a fazer, tal o atraso.
Deixei dinheiro para pagar o motel, peguei o carro e parti. Chequei em casa, tomei rápido banho, peguei a sogra em sua casa e rumei para a Igreja. Estava aliviado, mas preocupado com a mulher que tive de “abandonar“ no motel.
A SANDÁLIA
No percurso da ponte, ainda sendo recriminado pelo meu alegado “relaxamento”, senti que o pedal da embreagem estava duro, como algo o prendesse. Fiquei branco e gelado ao olhar para o piso do carro...Era um fino par de sandálias. Entrei em pânico! Estava paralisado sem saber o que fazer.
Lembrava daquela mulher no motel...
Olhava para um lado, olhava para o outro, com a cabeça a mil, buscando alguma idéia, quando notei um grande avião aproximando-se da ponte, apresentando reflexos do sol daquela tarde, e em vôo de aterrissagem ao Aeroporto Santos Dumont. Era a salvação, não tive dúvidas, apontei e, quase gritando, falei: “aquele avião está pegando fogo!
A mulher e a sogra olharam para o avião e, mais rapidamente que pude, com a mão esquerda, peguei o par de sandálias e o joguei pela janela, fato notado apenas por meu filho Lagarto que, inteligente, ficou na “moita”.
Respirei aliviado, enquanto as mulheres contestavam, dizendo que era apenas reflexo do sol nas asas do avião.
A MACUMBA
Chegamos à Igreja, estacionei, acendi um cigarro para acalmar-me, quando ouvi minha mulher dizer: “vamos mamãe, saia logo do carro que estamos atrasados!”
A sogra respondeu:
- “Parece coisa de macumba, na vinda tirei as sandálias dos pés e não as encontro...
É coisa de macumba, mesmo!
P.S. - Até hoje ela acredita em macumba e eu dou força, pois ela é a minha sogra favorita.
Só espero que meus amigos do Recanto não contem a verdade para ela, por favor!