Duas mulheres e meia
Contam-me uma historia de três mulheres que amavam dois irmãos. Um deles era alto, forte, viril como deviam ser os machos de uma família naquela época. O outro não se dava muito com o rigor da força, era mais sensível e às vezes até chorava. Dado todo o crescimento físico destes dois, saíram de perto de suas fêmeas familiares que, como me contam, pareciam ser mais fortes que todos os homens daquela família, e isso era estranho para época. O mais sensível certa vez conheceu uma jovem moça, e com ela resolveu ficar. Declarou amor, declarou paixão, casou-se sem ao menos questionar o dote, entregou-se como um homem moderno sem fuga do amor. Tempos mais tarde o amor pregou uma peça e esse jovem moderno sucumbiu em desespero, viu sua flor indo embora, viu seu presente maior se esvair, como faz a fumaça dos trens. Foi aí que me contaram que esse jovem saiu a peregrinar em busca de sabe-se lá o quê, ninguém entendia direito, mas ele buscava, todos sabiam que ele buscava, e todos o repreendiam por ninguém saber exatamente o quê. Numa dessas caminhadas pela vida, parou para descansar durante uns dias em uma vila de médio porte e lá encontrou um amigo, de longa data. Um amigo de muito tempo que ele amava muito. Disseram também que na época não se falava muito de amar amigos, mas estes aí, eles se amavam. E numa conversa de bar, depois do saudoso e merecido reencontro o amigo do irmão sensível o convidou para que ficasse em sua choupana e ele aceitou. Nessa estadia na vila conheceu uma outra moça, não tão flor, nem tão moça. Ninguém sabe dizer o que fez ele com ela se envolver, todos sabiam que era da primeira flor toda sua dedicação. Os dias em que ficou na vila o moço fez amigos, bebeu, se deu ao luxo dos prazeres mais mundanos. As pessoas que me contam dizem que ele chorou muito nessa época e começava a se perguntar o qual era mesmo sua busca. Certo dia foi ao seu encontro o irmão viril. Estava ele buscando travessura e a companhia do bom irmão. Encontrou ele, além das travessuras e do irmão sensível, uma moça. Ele começou a amar como o irmão sensível um dia havia lhe explicado e ele não deu votos de confiança. Amou. Amou. E quando achou que não era mais possível viver tanto outra pessoa descobriu a metade que era sua flor. Ela era meia, e pela metade ficou. Chorou. Chorou. Dizem que ele se recuperou depois e que os dois irmãos seguiram a vida. A primeira flor ainda brota no coração do irmão sensível, a segunda tornou-se flor de primavera está presente o ano todo e só floresce na estação e a meia mulher, devassa, traiçoeira e doce vive sua metade mais bonita, como se a outra não tivesse sido nunca descoberta.