SALVADOR/ALENTEJO
ADOLESCENTE tem bicho carpinteiro no corpo como diria minha tia Albertina,santa senhora adorada pelos sobrinhos.
Naquela aurora da minha vida eu costumava comprar a revista “O CRUZEIRO”,que era focada em intercâmbios entre jovens de vários países.Nos tempos pré-historicos,sem internet,nem e-mails,era tudo na base da escrita,o que me favoreceu muito,escrevendo em outras línguas e aperfeiçoando meu português.
Nesse troca-troca,nascia muita paquera internacional e eu,quase me caso com um sueco,chamado Sven,que era engenheiro da Phillips,na Holanda,e,estava se preparando para vir pro Brasil de mala e cuia,quando meu pai,desconfiado sertanejo,acabou com a igrejinha.
No colégio que eu estudava,tinha uma funcionariada copa quarentona,mulata simpática e sempre risonha,com uma “derriére”,de enlouquecer qualquer português.
Muita amiga das estudantes(colégio de freiras não aceitava garotos),disse a gente que era solteirona e invicta,pois,nunca tinha tido namoro firme e já tinha passado a hora de casar;mas,não ia de bom grado levar prá S. Pedro,o problema é que os homens rareavam e ela já não tinha ilusões.
Sei que a idéia foi minha;escrever uma carta para um português de meia idade,morador de uma cidade alentejana,que queria casar com uma rapariga brasileira;mandei a missiva,como se fosse a Maria.O gajo respondeu prontamente,dizendo ser um lavrador de pequenas posses,mas,bem aprumado,tinha a sua quinta e seu gado miúdo e dava no couro em qualquer quarto de lua,labrego alimentado a queijo de cabra e muito chouriço.Confessava,meio escabreado,não ter muitas luzes,mas,como Maria não tinha quase nenhuma,a coisa ia á mão de semear,como diria Saramago,o maior de todos.
Para encurtar a estória,depois de ocuparem o correio por algum tempo,Maria,na mais completa ignorância do que se armava,o gajo avisou estar vindo á Bahia,para buscá-la;casavam-se aqui mesmo e viajariam em seguida;.aí,foi um corre-corre para avisar Maria,contar-lhe o feito,convencê-la a encontrar o rapaz e casar com ele.Mas,é fácil convencer quem quer ser convencida.Sem parentes ou aderentes,lá se foi Maria para o aeroporto,comigo e duas amigas,além de uma senhora idosa,sabedora do caso,para impor respeito.
O encontro deu-se,gostaram-se,casaram-se e,quando estive em Portugal,rumo á Évora,saindo de Lisboa,fui visitá-los no Alentejo,onde moravam prósperos e felizes.
Ao sair de lá,aproveitei para tirar uma foto no Quartel de Bombeiros,em Vendas Novas,cuja padroeira é Santa Bárbara,minha santa de proteção.
O fato é verdade e dou fé.