O biquíni
Imagina só! Concluir o ginasial e ir com a excursão do colégio, conhecer a praia! Para uma guria nascida e criada numa cidade do interior, longe do mar, era um sonho. Ela ficava imaginando a cor, o gosto, o barulho, o tamanho... Quase não acreditava!
No redemoinho dos preparativos, a sentença, na voz grossa do pai:
- Se pegar exame, não vai.
Estudou como nunca tinha estudado antes. Leu, calculou, memorizou, refez exercícios, reuniu colegas, foi à biblioteca, atravessou noites em claro, em cima dos livros.
Na manhã da divulgação dos resultados, o café nem desceu. Ao chegar no colégio, a Irmã estava abrindo o portão.
- Ué?! Caiu da cama? Bom dia!
Mal respondeu ao bom dia da Irmã Antônia e saiu tinindo para ver as notas. Mas, cadê? No mural, só os avisos costumeiros.
- Irmã Antônia, onde estão as notas?
- Lá dentro, no corredor.
- Mas a porta está fechada!...
- É muito cedo, daqui a pouco abriremos.
Daqui a pouco? Não dava para acreditar! Esperar? “Puxa, mas essas freiras pensam o quê, que vou ficar esperando o café delas terminar? Porcaria!”
Só então percebeu que estava sozinha no pátio, sentou e esperou. Logo começaram a chegar colegas e o nervosismo era coletivo. Quando finalmente a porta se abriu, pares de pernas disputaram espaço e olhos ávidos percorriam as listas.
- Uuuhuuuuuuuuuuuuuu! Consegui!
Num lampejo, tudo ficou colorido, luminoso. Ia conhecer o mar!
Aí, foi um tal de separar as melhores camisetas, lavar bem o tênis, experimentar a bermuda que acabara de ser calça, pedir sacola de viagem emprestada, comprar filme para a velha câmera fotográfica, chinelo novo, toalha de praia e...Meu Deus!, e o biquíni?
Pânico total!
- Mãe, e o biquíni?
- Leva o meu maiô.
- Nem pensar! Todas as minhas amigas têm biquíni.
- Eu não tenho nada a ver com as tuas amigas. E não vou gastar dinheiro com isso. Nem temos dinheiro.
- Mas, mãe...
- Nem mais, nem menos. Se quiser, é o meu maiô; ou toma banho de bermuda e camiseta.
O mundo veio abaixo. Tanto estudo, tanto sacrifício e nem merecia um biquíni? Não era justo! Pensou em não ir, se trancar no quarto e morrer. Que vergonha! Todas as colegas levariam biquíni, só ela com maiô. E o maiô da mãe! A viagem para conhecer o mar, de repente, era um pesadelo.
Decidiu não dizer nada e foi caraminholando idéias. No dia seguinte, pariu:
- Já sei! Vou levar dinheiro para lanches. Deixo de comer, mas compro um biquíni!
E com essa idéia maquinada, nada mais disse. Arrumou as coisas e foi, tranqüila, ao encontro da turma para o embarque. A mãe, claro, quis verificar tudo e foi, com o pai, levá-la, para dar as duzentas últimas recomendações.
Enfim, o ônibus partiu e a diversão começou. Muita risada, música, piadas e nada de sono. Só na madrugada o cansaço começou a pegar e se fez a calmaria.
Quando amanheceu, estavam chegando. Rebuliço, pressa para descer, guardar as mochilas, trocar de roupa e ir rumo à praia. E agora, o que faria? Precisava de ajuda para sair e comprar um biquíni, não conhecia nada. Pegou o dinheiro de dentro da bolsa, contou, recontou, não era muito. Ficou com medo. Então, lembrou do maiô da mãe e pensou que deveria tê-lo trazido, pelo menos era melhor do que nada.
Decidiu colocar a bermuda, ex-calça, e uma camiseta e dar só uma caminhada pela praia, como se estivesse reconhecendo o terreno. Abriu a sacola para pegar o que precisava e encontrou um pequeno pacote estranho.
- Só falta que a mãe colocou lanche na minha sacola!
Abriu o embrulho e ficou olhando, meio maravilhada e meio em estado de choque. Lá estava ele, o maiô da mãe. Nem podia acreditar! A alegria foi tão grande que deu uma rodopiada e um grito. Mas ao pegá-lo, os olhos arregalaram-se e o coração quase saiu pela boca. Precisou olhar várias vezes, apalpar, cheirar...Era o biquíni mais lindo que ela já tinha visto.