TIRIRICA E OS ESCRAVOS DA MERDA
Venho desenvolvendo, desde muito, um trabalho voluntário junto ao projeto CCC (Comando Caça Cocô) que se resume na coleta diária de excrementos de meus cães RAYNA e YANCA
A Prefeitura complementa esse trabalho, ao efetuar, durante anos e anos, o imprescindível recolhimento dos referidos dejetos, aliás sem falha, bem como, sua final disposição.
Essa regularidade tem gerado algumas das minhas mais sérias e globais reflexões sobre a condição humana e seus cruciais problemas.
Assim, nos bairros, cidades e países, enfim em todo mundo, durante séculos e séculos, a produção, coleta e disposição dos excrementos são essenciais na vida humana.
Em cidades sem sistema de esgoto, por exemplo, os excrementos, são levados para valas negras que correm a céu aberto ou aos chamados sumidouros, simples buracos, onde são dispostos.
No meio rural, quando existentes, a defecação é feita em privadas “secas”, sem água, localizadas fora da casa, onde os excrementos se acumulam nas chamadas “casinhas”.
A inexistência das referidas casinhas tem motivado, até, o dito popular “vai cagar no mato”, realidade de milhões de brasileiros que ainda procuram uma moita para seu alívio, não se limpando, por certo, nas folhas de urtiga..
No Rio de Janeiro, mesmo no século passado, essa situação implicava na existência de profissionais de extrema necessidade no mercado de trabalho que tinham a responsabilidade de correr a Cidade, de casa em casa, para recolher a merda. Imagine as condições urbanas naquela época, verdadeiro “merdal“ .
Á propósito, a preocupação é antiga, pois a própria Bíblia em um dos primeiros livros do velho testamento já determinava algumas obrigações aos hebreus, “como não defecar nas áreas sagradas e sempre portar um cacete para cavar os buracos onde cagava.”
Hoje, o homem chegou à lua e trabalha para chegar, brevemente, a marte, contudo, ainda existem milhões de profissionais que exercem a função degradante mas fundamental de coletar excremento humano.
Na Índia, em centenas de cidades, mesmo em áreas urbanas, defeca-se em fossas secas dentro das casas, acumulando-se montanhas de cagalhões, até a sua final retirada por profissionais especializados.
O sistema secular existente que inviabiliza a mobilidade social naquele país, por outro lado, agrava terrivelmente a situação, pois leva os integrantes das castas inferiores, já extremamente pobres e impedidos ao exercício de melhores atividades pela ausência de oferta de trabalho e, principalmente pela discriminação, a única, exclusiva e degradante função que os permite sobreviver :
COLETAR MERDA.
Literalmente, obrigados a viver na merda.
Escravos que nascem, vivem e morrem na merda.
É o que faz por séculos essa casta que não tem opções, não tem perspectivas, talvez nem sonhos.
SÃO ESCRAVOS ...