Agulha de saco
Verdade seja dita. Vó Maria não tinha muito humor. Nâo era uma vó modernosa, de pegar no colo, contar histórias, fazer dengo. Mas é compreensível né? na época dela casava-se aos treze, quatorze anos e lá se ia a infância nas vassouradas pela casa, na água com sabão das roupas lavadas, na fumaça do fogão e do ferro à carvão. Tudo isso sem contar os filhos aos magotes. Definitivamente, vó Maria e tudo quanto é vó daquele tempo tinham o direito de não ter humor. Mas vó Maria tinha uma capacidade espantosa de fazer um tipo de humor que os netos só foram entender e rir, anos mais tarde. Era um comentário curto mas cheio de picardia. Vó Maria era noveleira de mão cheia. Na antiga TV Tupi a novela Simplesmente Maria, história de uma mulher do interior que vem com o filho para a cidade grande. Para sustentar a casa a mulher começa a costurar para fora. Como novela tem que correr, tres semanas depois a costureirazinha já tinha um belo atelier montado. Minha tia que fazia companhia à vó Maria pensou em voz alta: - Poxa vida, eu sou costureira a trinta anos e não consegui nem fazer um puxadinho onde pudesse costurar sossegada. Vó Maria, sem sair da sua seriedade costumeira sacou de bate-pronto a frase mordaz. - Ô Filú !! ô Filú !! ela enriqueceu costurando com agulha de saco, Filú.
Nâo aumentei nem um ponto.