JOÃO PREGUIÇA
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Recontando Contos Populares
João Preguiça quando ainda moço era um bom trabalhador, bom cabo de enxada, mas, por mais que trabalhasse não ia adiante.
Por fim deixou a peleja e fez propósito de não mais trabalhar. Vivia de comer o que caçava e de uma hortinha no fundo do quintal. No mais, passava o dia deitado numa rede e, por causa disso, ficou ainda mais pobre. “O que for meu às minhas mãos virá”, dizia.
Uma madrugada, alguém bateu a porta. Era um viajante. Um velho que pedia um pouco de comida. Numa voz desanimada de quem está se despedindo do mundo, João Preguiça disse:
— Entre, meu velho! Só tenho uma sobra de feijão aguado e um pão seco. Se for do seu gosto...
— É muito mais do que eu poderia querer, meu filho.
Sentaram-se à mesa.
Ao fim da refeição, o velho viajante encantado com a generosidade de João Preguiça, disse-lhe que tinha poderes mágicos e queria retribuir-lhe a gentileza concedendo-lhe um pedido.
— Você pode pedir o que quiser, por exemplo, pode pedir para ter o corpo fechado, ou perdão para todos os seus pecados, ou ainda pedir a sua salvação.
João Preguiça pensou e repensou e disse:
— Prefiro ter duas mangueiras ao lado da casa e quem subir nelas só desce com minha ordem.
— Bem, se é esse o seu gosto... Está concedido.
Em seguida o velho despediu-se e seguiu viajem.
Imediatamente, duas frondosas mangueiras cresceram ao lado da casa de João Preguiça. Há cada coisa que nesse mundo ninguém acredita, mas há.
A partir daquele dia, João Preguiça estendia sua rede entre as duas mangueiras e passava o dia deitado nela sem se preocupar com mais nada.
Mas o tempo passa ligeiro que nem percebemos; e como nunca chega atrasado João Preguiça ficou velho.
Certo dia estava como sempre esteve, deitado em sua rede debaixo das mangueiras, quando alguém vestido com uma capa preta aproximou-se dele.
— João!... João! Eu sou a morte. Sua hora chegou. Prepare-se! – disse a Morte.
— Já! – exclamou João, espantado. – Não pode ser, deve haver algum engano! Eu estou bem!
A Morte caiu na gargalhada.
— Não me venha com conversa fiada. Vamos embora agorinha mesmo.
João preguiça ficou algum tempo cabisbaixo, lagrimas nos olhos...
— Posso fazer um último pedido? Quero chupar uma manga do meu quintal antes de morrer.
— Vou lhe conceder esse pedido, mas seja rápido.
— Aí é que está o problema, Dona Morte. Estou um tanto velho e se conseguir subir na mangueira, levarei um bom tempo para pegar uma fruta e descer.
Então, implorou:
— Por favor, cara senhora, faça isso por mim e serei rápido em chupá-la!
A Morte praguejou, mas acabou aceitando a proposta. Subiu na árvore, arrancou uma manga e por lá ficou. Não conseguia descer de jeito nenhum.
— Isso não se faz! Você tem de me deixar sair daqui!
João Preguiça, vendo a Morte agarrada aos galhos da mangueira, caiu na risada.
— Se você me deixar aprisionada aqui haverá uma grande confusão no mundo, pois ninguém mais vai morrer...
E a Morte continuou explicando, desesperada... até que João Preguiça sentindo que ela estava no ponto disse-lhe:
— Só deixo você descer se me der mais dez anos de vida.
Sem ter outro jeito a Morte mais que depressa concordou.
E assim João Preguiça viveu mais alguns anos preguiçosos. ®Sérgio.
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Inspirado na oralidade popular.
Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!