Vida de Artista

Numa família, onde pai e mãe, educam seis filhos homens, todos marmanjos. O dois mais velhos já estavam casados. O Carlos, o primogênito, vivia no centro da cidade em casa alugada. Gostava da intimidade no casamento. E tinha bom emprego e podia bancar as despesas. Trabalhava na polícia militar como músico da banda sinfônica da corporação. O outro, trabalhava com o pai no sítio. Havia plantações diversas e animais para cuidar. Pedro vivia com Claudia, uma menina muito bonita, da região eles moravam na casa do seu Antônio e a dona Maria Izabel, pais de Pedro. Ele tinha ciúmes dos outros irmãos mais novos, principalmente Paulo, o que lhe sucedeu. Todos já eram moços viris. O mais novo já estava com dezessete. Não teve a sorte do mais velho. Sujeitava-se.

Naquela família, a música estava sempre presente. O pai tocava violão e ensinou os filhos. O quarto filho, João era sanfoneiro e cantarolavam nos finais de tarde, fins de semana e feriados. Assim os fedelhos desde pequenos foram moldandos à vida artística.

Carlos que tinha muito conhecimento na cidade viu uma oportunidade de ganhar uns trocados fazendo o que mais gostava. Formou uma banda, na companhia de seus irmãos. E passaram a fazer tocatas pelos quatro cantos da ilha. O nome sugerido do grupo foi: Os Ilhéus.

João tocava teclado eletrônico, daqueles que fazem tudo. Uma banda completa. Silvio o quarto filho arranhava na guitarra, Carlos fazia uns solos no seu saxofone. Pedro e Paulo dividiam o palco como vocais. Estavam sempre se intercalando, vez ou outra, certas melodias necessitavam de um dueto.

Num sábado, num mês qualquer, a noite foi de pendenga. Uma jovem passou a dar bola aos dois. Que passaram a concorrer pelos dotes da moça. No intervalo de uma música e outra, eles iam dançar com a menina. Hora um, hora outro. A coisa foi ficando feia. Estavam trocando olhares de ciúmes. E a moça parecia que estava gostando. Num determinado momento, quando faziam uns duetos, veio um jovem bem apresentável e acabou conquistando a jovem e a tirou do salão.

O baile termina e enquanto carregavam os instrumentos para a combi, discutiam abertamente sobre a questão. “Eu a vi primeiro. Não fui eu quem a viu. Eu a convidei primeiro para dançar. Não fui eu, tu não tinha que te meter...” E aquela combi enquanto se dirigia para o destino, virou um fórum de debates. E o julgamento não deu ganho de causa para Pedro ou Paulo, afinal todos eram advogados de defesa e promotores. O importante é que chegaram em segurança no destino.

Domingo, família reunida à mesa. Carlos como de costume veio com a esposa fazer parte da confraternização. Família de origem italiana, passam a discutir enquanto comem lasanha e degustam um bom vinho. Os assuntos eram diversos: Economia, política, futebol... mas num determinado momento, quando o assunto passou a ser música, enrredou-se para a tocata da noite anterior, acabou chegando no caso da moçinha que gerou conflito entre os irmãos Pedro e Paulo. Era uma algazarra só. “Eu a vi primeiro. Não fui eu quem a viu. Eu a convidei primeiro para dançar. Não fui eu, tu não tinha que te meter...” nesse ínterim, um choro abafado passou a contaminar o ambiente. Todos silenciaram e passaram a mirar na direção dos soluços. Era a jovem Claudia, esposa de Pedro, que junto dos outros não se deram conta de onde estavam. Confundiram a mesa em família com a combi da noite anterior.

Enquanto um aquele choro abafado erradiava-se no silêncio, Pedro que passou a ser alvo dos olhares, resolve falar: “ Pensa que eu sou só teu é?!”