Volta para casa, soldado
A felicidade existe, embora nunca se lhe toque. Ou está num futuro sonhado ou num passado sem retorno. Às vezes, dá-se o caso de duas pessoas se encontrarem juntas, sentirem-se deprimidas e, só após um final, se aperceberem de que eram feitas uma para a outra. Infelizmente, o amor não é como o desporto. Depois das palavras feias terem sido derramadas, do murro ter sido desferido, não se pede desculpa. Vai-se embora para sempre. Mas há o presente, sim, palavra importante. O presente é quase como a felicidade: existe em função de um passado ou de um presente. Tudo isto para quê? Para dizer que em dia X do ano Y, uma mulher foi-se embora do quotidiano de um homem, tendo-o deixado a pensar no que poderia ter feito para que tudo tivesse corrido de outra maneira.
Um dia, sentado num banco de jardim, vês uma mulher, apaixonas-te, dizes-lhe: «Olá, queres casar comigo?» E se não disseres isto dirás qualquer outra coisa patética e corarás tanto que te apetecerá fugir. E ela responde-te que sim, que se quer casar. Dás-lhe a mão. Quando se procuram sentimentos, o gesto de dar a mão é muito importante. Sentir o cheiro, olhar para as flores (ou imaginá-las). Tudo da maior relevância.
O maior solitário é aquele que vive com fantasmas.
Ela está à mão de semear e decides dar-lhe o teu melhor beijo. Quando vais para descolar os teus lábios dos dela, eles não saem, por conseguinte, a inocência vê-se obrigada a eternizar aquele momento. A boca na boca, os braços no braço, o umbigo no umbigo, os pés que pisam os pés, a dor boa. Tu a pensares que queres morrer ali, naquele lugar, naquele momento, já que não há mais nada para aprender.
Eis uma ausência de presente: ainda hoje, após tantas batalhas perdidas, o soldado deseja voltar para casa.