Causos de Maricá (5)
Na chegada da caçada, que fizemos naquela tarde, os adultos, sempre reclamando, nos mandaram pegar mudas de roupas, calçados e as latas e cuias ( antigas embalagens de manteiga e queijo-reino ) para tomarmos o banho na cacimba, único poço da restinga.
Situado na base de uma das dunas, próximo da lagoa, os nativos haviam escavado um buraco na areia, até a profundidade em que a água brotava.
Em seu fundo, um pequeno cercado de madeira, em forma de um quadrado com três palmos de lado e um palmo de altura, impedia que, o eventual escorrimento da areia, causado pela locomoção dos nativos, cobrisse o olho d’água.
O acesso a cacimba e a coleta de água eram penosos e requeriam muita paciência.
Assim, apenas um por vez, descía, vagarosamente, para evitar o deslizamento da areia, levando uma lata e uma pequena cuia, com a qual coletávamos, pouco a pouco e evitando a areia do fundo, a preciosa água,
Em seguida, mantendo o mesmo cuidado, saíamos do buraco, levando a lata cheia até uma distância segura , onde tomávamos o nosso banho de cuia, sem risco de contaminação do poço.
Um a um, pacientemente, participávamos desse verdadeiro ritual, quase sempre observado por algum nativo enciumado ou preocupado pelo uso de sua cacimba por parte de estranhos.
A água era salobra, prejudicava a formação de espuma no uso do sabonete e deixava os cabelos duros. Contudo era o que se tinha, não havendo outra solução.
Ao final, retornávamos, carregando as latas, devidamente cheias de água, para suprirmos as necessidades de nosso rancho, em especial no preparo de nossa alimentação.
A cacimba era, assim, um valioso tesouro e único, para todos nós e, principalmente, para os sofridos nativos daquela selvagem região.
O CRIME. Ao sol nascer, ouvimos uma gritaria que levou a todos acordarem e saírem de suas camas para fora do rancho.
No centro do terreiro, um grupo de homens e mulheres, caboclos, moradores próximos, irados, brandiam suas foices, enxadas e facões, conclamando o povo a fazer justiça com as próprias mãos, indo a caça de um terrível criminoso.
Um fato abominável havia ocorrido, verdadeira bestialidade, deixando a todos profundamente revoltados
Aproveitando as sombras da noite, o mais insano e misterioso criminoso, até hoje desconhecido, marcando para sempre e, negativamente, a história da região, escolheu a maior relíquia, o maior tesouro, enfim, a própria razão de vida do lugar, a cacimba da restinga e, ali, naquele quadradinho de água, naquela água tão preciosa, depositou uma...
TREMENDA CAGADA... DESSA DE FAZER MONTINHO! Ao lado deixou, ainda, um cartaz com a inscrição: "O CAGADOR MISTERIOSO, ATACA NOVAMENTE!"