O disco voador

O sol acaba de se por. A pequena cidade de Borda da Mata, no alto de aproximadamente uns oito mil habitantes, isso na década de 70, começa a ter sua praça central invadida de centenas de moradores para acompanharem algo surreal para a época.

Luzes que surgiram do nada, inexplicavelmente se moviam no escuro, numa velocidade vertiginosa. Os círculos luminosos estavam deixando a todos apavorados, o terror era visível em suas expressões de gente simples, que nunca haviam presenciado algo parecido.

O grande movimento na praça de uma pacata cidadezinha do interior se explica pelo fato de ser um sábado à noite e as pessoas estarem se dirigindo à matriz para assisitir à missa. E como notícia num lugar desses corre como rastilho de pólvora, logo todos estavam lá no jardim central para ver com os próprios olhos os objetos vindos de outro mundo.

Então veio polícia, juiz, promotor, padre, médico, prefeito e todas as demais autoridades para acompanharem esse acontecimento, podemos dizer, histórico para o lugar. E uma dessas autoridades, agindo mais com a razão que com medo, resolveu que era preciso formar um grupo de investigação do fenômeno e partir em direção das luzes, que pelas contas de alguns estavam posicionadas mais ou menos em direção a Ouro Fino, próximo ao cume de uma montanha que mais de destaca quando olha-se naquela paragem.

Os destemidos investigadores partiram para o local e o tempo foi se passando. Calcula-se mais ou menos uma hora depois e as luzes se apagam completamente. O burburinho entre os presentes na praça é enorme. Todos a imaginar o que teria acontecido. Será que os visitantes alienígenas já tinham ido embora? Será que capturaram nossos conterrâneos? Ou nós é que acabamos com eles?

As respostas e as revelações não tardaram por chegar. Um barulho de motor de jipe anunciava o comboio que de adentra pela rua principal da cidade. Além do jipe, a viatura policial e mais dois tratores. Então onde estão os discos voadores?

A resposta está nos tratores. Dois funcionários de um grande fazendeiro local passaram a semana inteira fazendo a aração das terras do patrão e quando faltava apenas um pequena parte da propriedade, isso no alto do morro, anoiteceu. O arado utilizado é daqueles que tem várias lâminas em forma de disco e que puxado pelo trator vai lavrando a terra.

Para terminar o serviço e não precisar retornar na segunda-feira àquele local de difícil acesso, ligaram os faróis de milha dos tratores e mandaram ver. Acontece que o reflexo das luzes iam direto para as lâminas de metal do arrado, provocando então essa ilusão de que seriam discos voadores fazendo zigue-zague pelo céu.

Explicado o caso, tudo voltou ao normal na pacata cidade. Os fiéis que estavam a caminho da matriz para a missa, rapidamente se dirigiram pra lá, pois o sinos da torre já redobravam. E os demais curiosos voltaram para seus lares, a fim de espalhar a história curiosa a quem não esteve presente e assim conservar essa pérola dos acontecimentos pitorescos para ser contada às gerações vindouras.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 26/10/2008
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