A defunta viva
Quando meu vô Danga era criança, isso nos idos da década de 40, lá na cidade de Caldas, aconteceu um fato curioso que até hoje o mais antigos recordam.
Existia na cidade uma senhora bastante idosa que era muito conhecida por todos, a velha era corcunda.
Como o frio é rigoroso nessa região montanhosa do sul de Minas Gerais, a velha veio a contrair uma pneumonia e faleceu em seguida.
É costume nas pequenas cidades interioranas, ainda mais naquela época, do médico preparar o defunto para o velório em casa mesmo.
A velha era corcunda e para deixá-la reta, deitada serenamente no caixão, o doutor teve que amarrá-la com uma cordinha junto ao fundo do caixão. Ele deu umas três voltas firmes com a cordinha pelo peito da velha, foi apertando ela contra o caixão até encostá-la no fundo e então amarrou a corda lá. Para não aparecer a corda no peito da anciã ele encheu tudo de flor.
O velório avançou pela madrugada e a casa da velha corcunda estava lotada de parentes e conhecidos que estavam a rezar o terço no velório, junto ao caixão.
De repente, a corda se desamarrou do fundo do caixão e a corcunda empurrou a velha para a frente. A defunta ficou praticamente sentada dentro do caixão.
As pessoas ali presentes levaram o maior susto. Valei-me minha Nossa Senhora da Aparecida. Umas desmaiaram, outras fizeram xixi nas calças de medo, teve beata que perdeu até a dentadura em meio à confusão, mas a maioria saiu correndo pelas ruas da pequena cidade, em meio à neblina de inverno, gritando que a defunta estava viva.
Meu vô garante que essa história é verídica e que ele estava entre as crianças que saíram correndo pela rua com medo da defunta viva sentada no caixão.