O PÉ DE PIMENTA
Durante a minha infância, lá pelos meus oito anos de idade, fomos certa vez, passar umas férias na casa de uma senhora. Alguém me dissera, se tratar da madrinha de minha mãe.
Nós, eu e meus irmãos, não tínhamos, até então muita convivência com ela, pois a mesma residia em uma outra localidade. No primeiro instante até que ela fora super simpática e agradável! Saíra distribuindo vários presentes para todos. Porém, depois de um certo tempo, passamos à conhecê-la melhor; era uma peste! Vivia nos colocando em situações difíceis e tendenciosas. Minha mãe muitas vezes, nem ficava sabendo desses acontecimentos. Hoje, eu analisaria os seus atos maquiavélicos, como um sentimento de puro sadismo que ela exercia sobre nós.
Certa feita, bem próximo ao entardecer, a dita senhora me chamou e colocando uma vasilha em minhas mãos. Ordenou então, que eu fosse até ao fundo do quintal colher todas as pimentas maduras que continham num pé. Embora aquela tarefa não me houvesse agradado nem um pouco, eu nem ousei reclamar... Já conhecia bem, a fera.
Chegando lá no fundo do quintal, encarei o "bendito" pé de pimenta de alto a baixo. Ele estava vermelhinho de tanta pimenta! Então pensei: "Puxa! Não darei conta nunca de catá-las antes de escurecer!"... Dei uma ligeira olhada à minha volta e pude perceber, que estava completamente isolada, naquele fundo de quintal. Senti então o medo começar a crescer... Meu coração começou a bater disparado dentro do peito. Alarmada, decidi a enfrentar logo, aquela inesperada provação. Com as mãos trêmulas, comecei a arrancar com ímpeto, todas aquelas odiosas pimentas! Porém, não demorou muito para que eu percebesse que era tudo em vão! Pois, quanto mais eu as tirava, mais elas pareciam aumentar! Já em pânico, notei que a noite caía rapidamente. Então, parecia que todos os bichos viriam para me atacar! Inclusive as cobras das quais tinha verdadeiro pavor! Qualquer coisa que eu ouvia se arrastar ou se mexer em volta de mim, me apavorava! Desesperada e aflita, pensei então, numa maneira salvadora, que pudesse me tirar daquele lugar. Foi exatamente aí, que uma ideia meio bizarra, passou pela minha cabeça. Não era nem a mais agradável, nem a mais inteligente porém, na minha inocência infantil, me parecia a única: iria literalmente, espremer pimenta nos olhos. Sim, estava resolvido. Eu sabia naturalmente que haveria de arder bastante mas, qualquer coisa valeria a pena para me ver longe daquele pesadelo. Então, decidida, cometi aquela loucura. Logo pude sentir o seu desastroso efeito. Fiquei tão alucinada de dor, que danei a gritar e a berrar fazendo o maior escândalo! Saí a correr pelo mato afora, sentindo os olhos ardendo em brasa e quase cega pelo efeito das malditas pimentas! Aliás, até hoje, eu não faço a mínima ideia, aonde foram parar aquelas tais coisinhas...
A madrinha de minha mãe, ficou tão atarantada e atordoada com a confusão que causei, que nem sabia o que fazer! Correu a me socorrer completamente atônita e estupefata diante do inesperado e inusitado desfecho, de sua maldosa armação.
Hoje, relembrando tudo isto, rezo pra que Deus a perdoe e a tenha em um bom lugar.
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